O LABIRINTO POÉTICO DE BORGES

FERNANDO MULLER KREBS, NORBERTO PERKOSKI

Resumo


Encontros com a Poesia é um projeto vinculado ao Grupo de Pesquisa Estudos Poéticos, coordenado pelo Prof. Dr. Norberto Perkoski, do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras 226 Mestrado da UNISC. Durante o ano, realizamos reuniões semanais dedicadas a discussões teóricas acerca da obra de Gaston Bachelard, bem como à leitura de poemas de diversos sistemas literários e à elaboração de seleções poemáticas para os encontros com o público. Ao longo dessas atividades, focamos, sobretudo, nos aspectos referentes à imaginação e ao fenômeno que o filósofo francês conceitua como repercussão-ressonância 226 que ocorre, nas palavras do próprio autor, quando podemos perceber, 223pela repercussão de uma única imagem poética, um verdadeiro despertar da criação poética na alma do leitor.224 No segundo semestre, acontecem, semanalmente, os Encontros com a Poesia junto ao público. Neles, realizamos momentos de leitura e fruição acerca das seleções poemáticas e também observamos a pertinência das ideias bachelardianas. Neste ano, dando seguimento ao enfoque na poesia ocidental, contemplamos os autores de língua espanhola. Um dos poetas abordados é o escritor argentino Jorge Luis Borges. Apesar de mundialmente reconhecido por seus contos e ensaios, Borges também produziu, do início de sua carreira até os últimos anos de vida, uma extensa e vigorosa obra poética 226 deixou, ao todo, quinze livros de poesia. O tom reflexivo e de constante retomada de seus temas preferidos perpassa todos os volumes, o que vem ao encontro de uma das principais características da escrita borgiana: a recriação das próprias ideias; o retorno ao já concebido, em busca de uma nova expressão 226 Borges tinha plena consciência da inesgotabilidade de suas temáticas favoritas e não via problema algum em retomá-las, enquanto fossem capazes de lhe revelar matizes ainda não percebidos. As imagens clássicas em seus contos, como os espelhos e os labirintos, ressurgem ao longo de seus versos, assim como uma enorme gama de outros temas, dentre eles: sua cidade natal, Buenos Aires; o regionalismo dos pampas e a figura do gaúcho (através de milongas e poemas narrativos); os heróis e os acontecimentos das sagas escandinavas; os autores canônicos da literatura e da filosofia que influenciaram seu pensamento; as figuras e as passagens bíblicas; os mistérios do tempo, do destino humano, da morte e do pós-vida; o eu e os outros eus; os animais e a natureza; os livros e as bibliotecas; os sonhos; a velhice e a cegueira que lhe assombravam. Tudo isso é matéria recorrente na poesia de Borges e, por caminhos diversos, projeta os espelhos e labirintos contidos dentro do que talvez seja seu maior e mais reconhecido tema: a memória. Críticos apontam na poesia de Borges um perfeito equilíbrio entre emoção e pensamento, o que se manifesta com clareza e elegância através da precisão rítmica e estética de seus versos 226 mesmo que o próprio autor afirmasse, no prefácio de Elogio da sombra, não acreditar em estéticas, dizendo que 223em geral não passam de abstrações inúteis; variam para cada escritor e ainda para cada texto e não podem ser outra coisa que estímulos ou instrumentos ocasionais.224 O que pretendemos apresentar neste trabalho são alguns dos principais aspectos que constituem o labirinto poético de Borges, erguido e lapidado através dos infindáveis jogos da memória do poeta argentino e fadado às contínuas mutações no imaginário de cada leitor.


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