DEMANDAS COGNITIVAS E DANOS PSÍQUICOS NO TRABALHO: UM OLHAR SOBRE A ATIVIDADE DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
Resumo
O Agente Comunitário de SaÚde (ACS) convive intensamente com os usuários e suas situações de saÚde/doença, o que expõe esse trabalhador a diversas demandas e exigências. A aproximação maior com a comunidade configura o trabalho do ACS como fonte de constante carga cognitiva, pois demanda deste a capacidade para lidar com as adversidades, resolver problemas e tomar decisões no seu trabalho. Deste modo, os ACS podem apresentar, com grande frequência, sintomas de estresse, o que favorece o sofrimento/adoecimento. Neste sentido, buscou-se averiguar, na percepção do ACS, a associação entre as demandas cognitivas e os danos psíquicos no trabalho. Trata-se de resultados parciais da pesquisa "Sofrimento no trabalho de Agentes Comunitários de SaÚde: um estudo nos municípios da 13ª Coordenadoria Regional de SaÚde - RS" desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em SaÚde (GEPS) da Universidade de Santa Cruz do Sul, contemplada no edital Programa Pesquisa para o SUS - PPSUS - 2013/2015. O estudo exploratório-descritivo, do tipo quantitativo-qualitativo, teve como sujeitos 251 ACS de 34 equipes de Estratégias de SaÚde da Família (ESF) e de cinco Estratégias de Agentes Comunitários de SaÚde (EACS) de 13 municípios da 13ª Coordenadoria Regional de SaÚde/RS. A coleta de dados foi realizada com o formulário validado "Inventário de Trabalho e Risco de Adoecimento" (ITRA), utilizando-se os fatores "Custo Cognitivo" e "Danos Psicológicos" aplicado a todos os ACS participantes e uma entrevista da qual participaram 16 sujeitos, em uma amostragem intencional, por município e tipo de estratégia. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UNISC, sob protocolo 713.475. Os dados quantitativos foram analisados obtendo-se o escore fatorial dos fatores, com o cálculo da média dos itens. Os dados qualitativos foram analisados por meio da Análise de ConteÚdo. Como resultado, o fator "Custo Cognitivo" atingiu um escore de 3,57 - em uma escala que varia de 2,29 a 3,69 pontos - o que indica uma avaliação moderada a crítica. Esta avaliação demonstra que os ACS reconhecem que seu trabalho os expõe a altas exigências de ordem mental e cognitiva. Contudo, o fator "Danos Psicológicos" foi avaliado como positivo/suportável (escore de 1,87 em uma escala que varia de 1,9 a 4,0). Em suas falas, os sujeitos relacionam o trabalho com o sofrimento e citam como situações desencadeantes o vínculo com os usuários, a rotina de trabalho e a falta de resolução dos problemas de saÚde da população, não sendo mencionadas as exigências cognitivas. Também relataram ter vivenciado sentimentos de tristeza intensa e distÚrbios de ordem psíquica e emocional. Isto indica que este trabalho se configura como fonte de sofrimento, dado este diferente do apontado pelos sujeitos na avaliação quantitativa. A diferença de avaliação entre os fatores pode indicar que, mesmo que os trabalhadores reconheçam que sua realidade de trabalho os expõe a exigências cognitivas significativamente altas, eles negligenciam o sofrimento descrito. Além disso, a discordância entre as avaliações feitas pelos ACS demonstra o quão complexa é a área e o panorama de trabalho deste profissional, visto que não puderam definir com clareza a presença de sofrimento. Fica evidente a importância da complementariedade da análise dos dados e a necessidade de continuidade de estudos nessa área, a fim de esclarecer estas fragilidades.
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