DEMANDAS E DANOS FÍSICOS NO TRABALHO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
Resumo
O trabalho do Agente Comunitário de SaÚde (ACS) mostra-se necessário para a reorientação da atenção primária à saÚde no Brasil, na atuação como elo entre o serviço de saÚde e a comunidade assistida. Sua prática é regida por um conjunto de estratégias organizacionais instituídas e programadas por cada município, de acordo com suas características geográficas, de habitantes e base territorial, o que pode expor o ACS a diferentes níveis de sobrecarga física e danos ocupacionais. Nessa perspectiva, propõe-se analisar a relação entre implicações físicas decorrentes do trabalho com características do município, área territorial de atuação e tipo de vínculo empregatício do ACS. Trata-se de resultados parciais da pesquisa "Sofrimento no trabalho de Agentes Comunitários de SaÚde: um estudo nos municípios da 13ª Coordenadoria Regional de SaÚde - RS" desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em SaÚde (GEPS) da Universidade de Santa Cruz do Sul, contemplada no edital Programa Pesquisa para o SUS - PPSUS - 2013/2015. O estudo exploratório-descritivo, do tipo quantitativo, teve como sujeitos 251 ACS de 34 equipes de Estratégias de SaÚde da Família (ESF) e de cinco Estratégias de Agentes Comunitários de SaÚde (EACS) de 13 municípios da 13ª Coordenadoria Regional de SaÚde/RS. A coleta de dados foi realizada com o formulário validado "Inventário de Trabalho e Risco de Adoecimento" (ITRA), utilizando-se os fatores "Custo Físico" e "Danos Fisicos". O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UNISC, sob protocolo 713.475. Os dados foram organizados com o auxílio do Software Statistical Package for Social Sciences 20.0 (SPSS) e submetidos à análise estatística, descrevendo os valores de média e desvio padrão. Foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk e utilizado o teste U de Mann-Whitney para a distribuição dos dados considerados não-normais. O nível de significância adotado para todos os testes foi de 5% (p<0,05). A partir da análise dos dados, observou-se associação estatisticamente significativa entre "Custo Físico" e as categorias "município" (p<0,000) e "Área Urbana ou Rural" (p<0,042), diferente da associação com o tipo de vínculo empregatício do ACS (ESF OU EACS), que não apresentou significância (p<0,846). Isso demonstra que as exigências físicas do trabalho variam de acordo com o município e localização da área de atuação do ACS, não sofrendo influência do tipo de vínculo empregatício. Em relação ao fator "Danos Físicos", observou-se que os itens "município" (p<0,042) e "Tipo de Estratégia - ESF ou EACS" (p<0,017) apresentaram significância, enquanto o item "Área Urbana ou Rural" (p<0,232) não mostrou relação com esse fator. Ao contrário do encontrado na avaliação do fator "Custo Físico", o fator "Danos Físicos" não apresenta associação significativa com a localização da área de atuação do ACS, entretanto, mostram-se relacionados ao tipo de vínculo de trabalho. Estas variações podem ser explicadas, basicamente, pela forma como é pensada, organizada e localizada a rede de atenção básica. Como é atribuição de cada município regulamentar, organizar e gerenciar estes serviços, as propostas de intervenção podem ser diferentes para cada município, área ou programa, particularidades estas que refletem diretamente no modo como o processo de trabalho exige fisicamente do trabalhador e no impacto destas exigências sobre sua saÚde.
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