SUBJETIVAÇÃO DA MULHER NO PENSAMENTO EUGENISTA A PARTIR DA ANÁLISE DOS BOLETINS DE EUGENIA (1900-1950)

YASMIN DANIELLA D AVILA, NATÁLIA BEHLKE FARIAS, MOZART LINHARES DA SILVA

Resumo


Este trabalho é parte integrante dos estudos produzidos no projeto de pesquisa "Biopolítica, Eugenia e Educação no Brasil (1900-1950)", coordenado pelo Professor Doutor Mozart Linhares da Silva, desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul. O estudo circunscreve uma análise acerca do discurso eugenista do início do século XX no Brasil, buscando compreender os mecanismos de poder que atravessaram os processos de normalização e subjetivação dos sujeitos femininos. A partir de algumas ferramentas teórico-metodológicas dos Estudos Foucaultianos, tais como a biopolítica, normalização e a subjetivação, este trabalho realiza uma analítica acerca dos discursos desdobrados do periódico intitulado "Boletim de Eugenia", publicado entre os anos de 1929 e 1933 e coordenado pelo médico e farmacêutico Renato Kehl, principal eugenista brasileiro. Os Boletins de Eugenia se caracterizam como uma ferramenta importante na divulgação dos estudos dessa ciência, pois abrangiam a sociedade em suas diversas instâncias, contribuindo na construção e controle de uma nação higienizada, saudável e normalizada. A introdução das teses eugenistas na cena intelectual brasileira fez eclodir novas discursividades a respeito das questões relacionadas à regulamentação dos dispositivos da sexualidade. De acordo com as teses da ciência eugênica, o domínio dos desejos sexuais era estratégico para o aprimoramento dos indivíduos entendidos como "eugenizados", ou seja, os sujeitos desejáveis para o aprimoramento civilizatório da sociedade brasileira. Tendo em vista a preocupação com a reprodução de uma nação "saudável" e "forte", os estudiosos passam a destacar o corpo feminino, considerando sua importância na reprodução de uma prole eugenizada/higienizada. Destaca-se que este estudo está em andamento, sendo assim, a partir das análises realizadas até a presente etapa da pesquisa, é possível afirmar que emergem nesse período novas concepções acerca da função biológica, política e social da mulher que desbloquearam discursos de regulação do corpo feminino, por meio de estratégias biopolíticas que incidem, necessariamente, sobre a normalização e constituição dos sujeitos femininos. As novas discursividades produzidas sobre a mulher apontam para a necessidade de ordenação do corpo feminino e eugenizado, aperfeiçoando a partir de modos de regulação tangível, como é o caso da medicalização, ou a partir de práticas de internalização de normas sociais que designam formas adequadas e desejáveis de "ser mulher".


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