MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DISCURSO MÉDICO NA REVISTA DO ENSINO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: 1939-1942

CARLOS AUGUSTO FERREIRA KOPP, MOZART LINHARES DA SILVA

Resumo


O presente trabalho é um desdobramento do projeto "Biopolítica, Eugenia e Educação no Brasil (1900 - 1950)", desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, que objetiva analisar a construção de dispositivos de governamento biopolítico no Brasil. A pesquisa visa contemplar o processo de medicalização da educação nos anos de 1930 e 1940, a partir da análise de artigos divulgados na Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul, publicada entre os anos de 1939 e 1942. Nesse sentido, analisam-se aqui as transformações ocorridas no campo da educação a partir da emergência do saber médico e suas implicações na prática docente, bem como o processo de medicalização da educação enquanto dispositivo de governamento biopolítico do Estado. A Revista do Ensino foi o principal periódico da imprensa pedagógica gaÚcha, constituindo-se assim como a plataforma de diálogo entre o Estado e os professores rio-grandenses. Através da seleção e publicação de artigos científicos, o Estado construía as práticas pedagógicas a serem adotadas pelos professores, bem como narrativas identitárias nas quais os docentes se constituiriam. Veiculada durante o Estado Novo, regime político marcado pela nacionalização do ensino e a centralização do poder, a Revista do Ensino encontra-se circunscrita em um amplo processo de reconstrução nacional, sobretudo na construção do "homem brasileiro", um homem que deveria ser saudável e apto para o trabalho. Nessa configuração, os movimentos científicos eugenista e higienista tiveram uma grande influência na intelectualidade brasileira do período. Tomando os artigos da Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul como corpus discursivo da pesquisa, a análise foi instrumentalizada por três conceitos de matriz foucaultiana: medicalização, biopolítica e governamentalidade. Lançando mão dos conceitos desenvolvidos pelo filósofo francês Michel Foucault e compreendendo a Revista do Ensino como responsável pela propagação do discurso médico na imprensa pedagógica, é possível entender o processo de medicalização da educação como um dispositivo de governamento biopolítico, na medida em que a entrada da saÚde no campo da educação tinha como objetivo a constituição de sujeitos de acordo com o projeto de população estado-novista. Desta forma, os artigos publicados no periódico irão preocupar-se com a construção de espaços escolares que sigam padrões estabelecidos a partir de pressupostos médicos, a prevenção de doenças e epidemias e também a organização curricular através da inserção de práticas de higiene e da criação da disciplina de Educação Física.


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