BALADA DE AMOR AO VENTO: UM NARRADOR EM PRIMEIRA PESSOA E ALGUNS "EUS"

HELENA JUNGBLUT, ANA CLAUDIA MUNARI DOMINGOS

Resumo


O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/UNISC tem por objetivo apoiar o desenvolvimento da pesquisa científica a estudantes de graduação, possibilitando experiências que qualifiquem o campo acadêmico e profissional. Tal programa possibilitou o presente trabalho que se baseia nas primeiras análises sobre a questão do narrador em produções literárias contemporâneas, mais especificamente no romance Balada de amor ao vento (1995), da escritora moçambicana Paulina Chiziane, com base nos aspectos apresentados em estudos teóricos acerca do narrador por Ronaldo Costa Fernandes (1996). A partir da análise do narrador em primeira pessoa, observamos a construção de um diálogo com o leitor que traz à tona elementos subjetivos da cultura moçambicana, ligados à tradição, aos costumes e à rotina daquele povo. Baseando-nos em Fernandes, temos na narrativa, enquanto fato consciente e cultural, uma apreensão da realidade e a expressão de um modo de pensar a totalidade. Considerando a memória um sinônimo de experiência vivida a ser relatada, o autor nos diz que o tema social de uma obra nasce das inquietações fora do texto, da vivência do escritor em sociedade. A partir do mundo exterior, o narrador testemunha seu tempo e sua época, mas é também a partir deste "fora" que nos relata de si mesmo, seu "mundo de dentro". Da obra estudada ainda ressaltamos que a questão da memória-experiência em uma narrativa é imprescindível, sendo um dos elementos-chave para que nos coloquemos no lugar de outro indivíduo e possamos ver o mundo com outros olhos. Ou seja, ler a história de um protagonista é outra maneira de compreender o meio social em que se vive. Balada de amor ao vento tem como narradora-protagonista Sarnau, uma voz que tem sua vida dirigida pelo amor e, sobretudo, pelos homens. Entremeadas pelo questionamento do meio social e pelo papel da mulher no contexto moçambicano - seu próprio papel -, suas reflexões nos fazem discutir sobre o regime patriarcal e a poligamia existente em algumas regiões do país. Dentro de sua história outras histórias são inseridas, transmitindo os conflitos e sentimentos de Sarnau frente a tradições e ao papel social da mulher. É a partir do fato narrado que vivemos e sentimos, junto com a protagonista, novas percepções e experiências da realidade, como a submissão, o analfabetismo e a exploração da mão de obra negra. Além disso, no texto há uma voz integrada à identidade feminina compartilhada. Em seus estudos, Fernandes questiona sobre quantos "eus" compõem uma narrativa em primeira pessoa, já que o narrador pode se observar de longe, ser o outro e se conhecer tantos anos atrás, assim como o leitor que se faz de muitos "eus" junto às narrativas literárias. Por fim, atualmente na presente pesquisa, evoluímos no que diz respeito a novas percepções sobre a literatura, principalmente sobre a ficção e a função do narrador; entretanto, ainda buscamos uma compreensão mais apurada no que diz respeito a este tema.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.