Este artigo é uma reflexão resultante dos estudos do Grupo de Pesquisa sobre "Narrativas Literárias e Midiáticas Genalim" - (CNPQ), ligado ao Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), do qual, por sua vez, faz parte do projeto "Narrativas audiovisuais e autenticação do real". Neste sentido, este projeto é dedicado a investigar as narrativas contemporâneas em sua estrutura e perspectiva audiovisual, buscando reconhecer seus traços estéticos constituidores. Assim, parte-se dos estudos sobre a narrativa como marco teórico, observando neles como se dá a construção da personagem e sua performance complexa (FORSTER, 1969). Busca-se, nesta perspectiva, entender como se apresenta a personagem complexa mediante a representação audiovisual em uma estética pós-moderna ou hipermoderna (LIPOVETSKY, 2009). Especificamente, busca-se compreender que tipo de representação da personagem feminina Capitu é feita, levando o mesmo nome da minissérie, exibida e produzida pela Rede Globo de Televisão, em 2008 e dirigida por Luiz Fernando Carvalho. A produção audiovisual foi roteirizada a partir da obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis e tem em sua produção, cenários e figurinos híbridos de século XIX e XXI, construindo desta forma um exemplo da hipermodernidade ao reunir nas cenas e quadros elementos de dois séculos diferentes, unindo, dessa forma o moderno e o antigo. Para tanto, a minissérie apresenta uma releitura da personagem Capitu em uma linguagem marcada pela articulação alta cultura com a cultura das mídias - ou artemídia (MACHADO, 2007), aos moldes da narrativa contemporânea hipermoderna ou pós moderna (RAHDE; CAUDURO, 2007). Como metodologia para a realização desta pesquisa, foi utilizada análise exploratória e análise posterior da personagem Capitu, a partir de cinco episódios distribuídos ao longo da minissérie para que fosse possível abarcar as fases da adolescência, da juventude e da fase adulta de Capitu. Em razão disso, nesses episódios foram observados e analisados figurinos, cenários, fotografia e discurso da personagem, observando as hibridizações entre o moderno e hipermoderno no sentido de evidenciar e como esta característica afeta a construção da personagem Capitu na visão do diretor Luiz Fernando Carvalho. Partindo-se da ideia de que Capitu é uma personagem complexa, constrói-se suas primeiras características compreendendo-a como uma personagem complexa hipermoderna. Capitu pode ser assim classificada pois está, totalmente inserida no hibridismo que caracteriza este tipo de produção e de personagens. Ao longo da minissérie e conforme a personagem cresce, seus vestidos e penteados também se tornam mais adultos e obscuros, evidenciando os mistérios da personagem. Os cenários que são construídos e carregados pelos próprios atores, enquanto representam e trazem a hipermodernidade para toda a obra, na medida em que a personagem se apresenta resultante deste constructo entre elementos modernos e contemporâneos.