MEMÓRIAS DE UMA EDUCAÇÃO CLANDESTINA: UM OLHAR SOBRE TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS DE MILITANTES DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
Resumo
Durante a maior parte do período conhecido como "Guerra Fria", o Partido Comunista Brasileiro (PCB) esteve na ilegalidade, porém continuou atuando clandestinamente em suas atividades. Entre elas estavam os cursos ministrados para seus militantes, com conteÚdos relacionados à economia, à política, ao trabalho feminino e à sindicância militar. O presente trabalho pretende identificar, através de textos autobiográficos de Eduardo Dias, Hércules Corrêa e Heitor Ferreira Lima, as formas, os mecanismos e as funções da educação comunista desenvolvida pelo antigo PCB, no período compreendido entre as décadas de 1940 e 1980. A pesquisa insere-se na segunda fase do projeto de pesquisa "Educação clandestina e traição: uma história da educação dos comunistas no Brasil da Guerra Fria". No campo da História da Educação existem poucas produções sobre o assunto. Entretanto, uma série de documentos revela que havia uma rede de educação clandestina entre os comunistas, tanto no Brasil como no exterior. A metodologia utilizada neste momento refere-se à leitura, fichamento e análise de textos autobiográficos dos autores supracitados, bem como o cotejamento dessas informações com os documentos analisados na primeira fase. Observando os espaços e os deslocamentos entre o vivido e o narrado, busca-se identificar nas trajetórias desses sujeitos elementos que permitam ampliar o entendimento dos processos de educação vivenciados por comunistas brasileiros na segunda metade do século XX. Os autores tinham grande vivência na militância partidária no PCB. Hércules Corrêa militou durante 45 anos no partido e, em 1964, estava no comando da Confederação Geral dos Trabalhadores. Tornou-se extremamente influente nas atividades pÚblicas, deixando o partido em 1990 e escrevendo o livro "Memórias de um Stalinista". Eduardo Dias foi um militante do PCB que nasceu em Almunhecar, na Espanha, em 1917. Ele imigrou com os pais para o Brasil em 1926. Seu livro "Um imigrante e a revolução" também aborda as condições e experiências de Trabalho e Educação no PCB. Começou sua militância muito jovem, quando morava em um reduto de imigrantes em São Paulo. Heitor Ferreira Lima escreveu "Caminhos Percorridos". Em sua obra, é possível verificar a insatisfação do autor com o sistema vigente e sua participação em encontros de formação ofertados pelo PCB. A pesquisa ainda está em andamento, mas os resultados parciais permitem-nos inferir que os comunistas tinham uma complexa rede de educação organizada na clandestinidade. Os diferentes cursos que eram realizados em solo brasileiro tinham caráter preparatório para as atividades recorrentes dos militantes no território nacional e/ou funcionavam como processos seletivos para ingresso em cursos de formação realizados na URSS.
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