RACISMO NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS: ANÁLISE DOS DISCURSOS RACISTAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

FRANCIELE RIBEIRO RODRIGUES, AMANDA INÊS BUBLITZ, MOZART LINHARES DA SILVA

Resumo


O presente trabalho foi construído dentro do projeto "Biopolítica, Eugenia e Educação no Brasil (1900 - 1950), desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Tem como objetivo analisar o processo de proliferação do discurso de ódio racial no Brasil contemporâneo, problematizando a emergência da desconstrução do ideário da democracia racial. Nesse sentido problematizamos as próprias narrativas identitárias nacionais. Assim, na pesquisa, destacamos que a formação identitária do Brasil ocorre através da ideia de um país baseado em um "paraíso racial", onde não se tem uma cor definida. O negro, até o final do século XIX, é visto à parte do processo de identidade nacional e quando incluso é como sujeito responsável pela degeneração do país. Com a Revolução de 30 o nacionalismo brasileiro surge na contramão do declínio das oligarquias e da crise mundial do liberalismo, logo o branqueamento é uma alternativa para valorização da identidade brasileira através da mistura racial. A democracia racial, enquanto discurso oficial do Estado brasileiro a partir dos anos 30 e gestada por parte intelectualidade brasileira, a exemplo da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, se constituiu como estruturante das relações étnicos raciais do país. Nessa perspectiva o Brasil seria uma nação livre do racismo e organizada a partir da miscigenação como característica civilizatória mais importante. Nesse contexto da democracia racial como narrativa identitária do país, assistimos a inclusão de aspectos da cultura negra, que até então eram proibidos no país, passam a ser incluídos de maneira positiva. Após a Segunda Guerra Mundial a UNESCO, buscando combater o racismo, utiliza o Brasil como exemplo de convívio racial harmonioso, todavia, após as pesquisas realizadas, a realidade encontrada é muito diferente do que o esperado. O mito da democracia racial passa a ser combatido pelos movimentos sociais anti-racismo como é o caso do Movimento Negro Unificado. Na década de 80 ocorre uma radicalização do Movimento Negro Unificado, este tomará como alvo privilegiado, justamente a democracia racial, considerada portanto como mito que impede que a sociedade brasileira assuma o racismo como elemento estruturante das desigualdades sociais. Nos anos 2001 surgem as Políticas Afirmativas nas universidades, através de decretos governamentais, onde o negro teria uma porcentagem de cotas no processo seletivo. Em 2003 é aprovada a Lei nº 10.639 e em 2004 surgem as Diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Em 2014 na efervescência do processo eleitoral assistimos uma profusão de debates pelas redes sociais e neste ambiente a profusão também de discursos claramente racistas, o que até então não havia assumido de forma tão intensa a esfera pÚblica na sociedade brasileira. Em outras palavras as redes sociais fizeram transbordar discursos racistas até então exclusivos da esfera privada para esfera pÚblica. Nessa pesquisa fazemos um recorte desses discursos propagados pela rede para problematizar as próprias narrativas identitárias da nação, que evidentemente passam a ser construídas contornando o chamado mito da democracia racial

Palavras-chave - Racismo, Redes Sociais, Democracia Racial ,Discurso, História Social do Brasil


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