AS VIAGENS DE GULLIVER: ENTRE A LEITURA E A RELEITURA

ADRIA GRAZIELE PINTO, EUNICE TEREZINHA PIAZZA GAI

Resumo


Nosso estudo vincula-se ao projeto de pesquisa "Os estudos acadêmicos de literatura: pressupostos teóricos e aplicabilidades", coordenado pela Profª Drª Eunice Terezinha Piazza Gai que contempla a realização de investigações a partir de uma perspectiva hermenêutica, propondo reflexões de natureza ontológica em relação ao texto que é lido. Para tanto, são utilizados os entendimentos propostos por Paul Ricouer (1990) acerca da leitura interpretativa com o objetivo de identificar aspectos como a ironia e a sátira que permeiam a obra As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. O diário de bordo de Lemuel Gulliver narra, separadamente, quatro viagens ao redor do mundo em que revela genialmente os costumes e especificidades de cada povo ao comparar a política e filosofia dos anfitriões com as encontradas em sua própria terra. Nossa investigação, disposta em dois momentos distintos, contempla inicialmente a primeira viagem do médico inglês à ilha de Liliput - o mundo dos "muito pequenos". A fim de averiguarmos as críticas veladas que compõem sua narrativa, atemo-nos aos relatos dos costumes e singularidades desse universo em comparação com o mundo de nosso narrador, "ouvindo", como pano de fundo, a voz irônica que emerge à superfície da história. Ao nos apropriarmos dessa voz, elegemos como objeto de nosso estudo, uma das inÚmeras situações enfrentada pelo protagonista: o incêndio ocorrido nas dependências do palácio da Majestade de Liliput. É através de sua perspicácia e ingenuidade que Gulliver encontra uma maneira nada convencional de resolver a adversidade a que é exposto. A solução para esse episódio, que aos olhos do "homem montanha" se mostra simples e lógica, acaba por gerar animosidades na relação mantida entre o viajante e os nativos da ilha, cumprindo um papel essencial no desfecho da história. Em um segundo momento, observamos o tom concedido por Jonathan Coe (2001) à releitura da situação antes mencionada em um texto que abrange o pÚblico infantil. Conscientes de que tanto a literatura infantil como a infantojuvenil dispõem de recursos que vão para além do texto escrito, exploramos também nesse momento a influência de alguns artifícios narrativos, como, por exemplo, os recursos imagéticos que induzem o jovem leitor a desvelar o âmago do texto exposto ao aguçar sua capacidade de interpretar outros signos. Enfim, tencionamos, através da observação do diálogo entre as duas composições, investigarmos se a essência do texto-fonte, apesar das modificações sofridas, é mantida ou não em sua adaptação, reforçando a busca pela entonação crítica e reflexiva que é encontrada na obra de Swift.


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