AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA CEREBELAR DE CAMUNDONGOS SUBMETIDOS A UM MODELO EXPERIMENTAL DE APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO

Leonardo Silveira Nascimento, Larissa Neumann, Maria Viviane Gomes Muller, Jodel da Silva Alves, Dennis Baroni Cruz

Resumo


A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma doença extremamente prevalente, caracterizada por interrupções da respiração durante o sono. Estas são causadas por obstruções das vias aéreas superiores, ocasionando a hipóxia intermitente (HI). Múltiplas são as evidências na literatura que apontam o impacto da AOS sobre a fisiologia e a morfologia dos mais diversos tecidos. O estresse provocado pela AOS está relacionado com complicações cardiovasculares graves (incluindo o acidente vascular cerebral), sonolência diurna e alterações da função neurocognitiva. A AOS também é capaz de causar alterações morfológicas no sistema nervoso central (SNC), como redução no volume de substância cinzenta e modificações do hipocampo esquerdo. Tais alterações se refletem em danos funcionais, como déficits de memória, dificuldade em aprender novas tarefas, fluência verbal alterada e problemas de atenção. O cerebelo também é afetado em pacientes com AOS através da perda de substância cinzenta, resultando em disfunção motora. Diante de tais evidências, o objetivo desse estudo foi investigar através da análise microscópica óptica o efeito da HI sobre a histologia cerebelar. Neste estudo, camundongos CA1 (n = 25) foram expostos a 21 dias de HI, alternando 30 segundos de hipóxia (nadir de FiO2 de 7%) e 30 segundos de normóxia. Durante 8 horas/dia, os animais sofreram 480 ciclos de hipóxia/reoxigenação. O mesmo número de animais (n = 25) foi utilizado como grupo controle, sendo submetido à simulação de HI (simHI). Ao término da exposição, todos os animais foram anestesiados profundamente e sacrificados. Avaliou-se histologicamente o cerebelo de ambos os grupos quanto à espessura da camada granular de sete folhas cerebelares diferentes, mensuração da área da camada de células de Purkinje e de oligodendrócitos, além das alterações citológicas inflamatórias. Os resultados apontaram que as espessuras das camadas granulares de sete folhas cerebelares diferentes foram similares (P=0,13). O infiltrado celular inflamatório apesar de ser maior no grupo HI, não apresentou valor estatístico significativo (P=0,22). Os demais parâmetros analisados apresentaram aumento relevante do ponto de vista estatístico no grupo HI: mensuração da área da camada de células de Purkinje (P=0,011) e de oligodendrócitos (P=0,012). Estes resultados sugerem que a exposição à HI, simulando a AOS, induz a apoptose das células de Purkinje e dos oligodendrócitos. Além disso, a AOS parece exercer estímulo sobre o processo inflamatório intracerebelar, fato esse já comprovado sobre outros tecidos. Tais achados podem explicar parcialmente o impacto exercido pela AOS sobre o cerebelo. Os resultados deste estudo são promissores, pois algumas das alterações histológicas encontradas podem ter correspondência no ser humano. O emprego da técnica de imunoistoquímica de forma complementar poderá ser útil como complementação das técnicas histológicas.

 

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