O excesso de peso é considerado um importante problema de saúde pública mundial em todas as faixas etárias, entretanto, essa condição é cada vez mais comum em crianças e adolescentes. O sistema respiratório é diretamente afetado por tal condição, uma vez que o excesso de peso provoca sobrecarga das estruturas do sistema respiratório ocasionando alterações na mecânica respiratória, na tolerância ao exercício, nos volumes pulmonares, no padrão respiratório e na força dos músculos respiratórios. Desta forma, a avaliação da função pulmonar torna-se importante para o manejo de indivíduos com algum tipo de disfunção respiratória, bem como naqueles com o risco de desenvolver tal problema. O objetivo foi avaliar os volumes pulmonares em crianças e adolescentes conforme a classificação do Índice de Massa Corporal (IMC). Estudo transversal composto por crianças e adolescentes eutróficos, com sobrepeso e obesidade, de ambos os sexos e com idade entre 7 e 18 anos triados nas escolas municipais e estaduais da zona urbana e rural de Santa Cruz do Sul. Os escolares foram alocados de acordo com o IMC no Grupo Eutrófico (GE), Grupo Sobrepeso (GS) e Grupo Obesidade (GO). A função pulmonar foi avaliada através de teste espirométrico digital portátil (MicroLoop MK8®, Care Fusion, Germany). Os procedimentos metodológicos seguiram as recomendações da American Thoracic Society (ATS, 2002). Durante a realização do teste, os indivíduos permaneceram sentados a 90°, com os pés apoiados no solo e tórax ereto com utilização de clipe nasal para evitar escape aéreo. Para a obtenção das medidas, os escolares foram orientados a respirar através de um bucal com volume de ar corrente e então, a realizar uma inspiração profunda até a capacidade pulmonar total (CPT) com expiração “rápida e prolongada” subsequente sem hesitação, finalizando o exame com a retirada do bucal. Os dados foram expressos em frequência, média e desvio padrão ou mediana e intervalo interquartil. A comparação dos volumes e fluxos pulmonares em crianças e adolescentes eutróficos, com sobrepeso e obesidade foi realizada através do teste de Kruskal Wallis. Nível de significância p<0,05. Foram avaliadas 320 crianças e adolescentes, sendo o GE composto por 140 escolares (sexo masculino, n=53), com média de idade de 12,0 (10,0-14,0) anos e IMC de 18,3 (17,0-20,3) Kg/cm², o GS composto por 88 escolares (sexo masculino, n=38), com média de idade de 11,0 (9,0-14,0) anos e IMC de 21,5 (19,8-24,21) Kg/cm² e o GO composto por 92 escolares (sexo masculino, n=35), com média de idade de 10 (9,0 -12,0) anos e IMC de 26,0 (23,8-28,4) Kg/cm². Em relação aos volumes pulmonares foi constatada diferença significativa entre GE, GS e GO em relação às variáveis VEF₁ (p=0,036), VEF₇₅/CVF (p=0,016), VEF₁/CVF (p<0,001), VEF₁/VEF₆ (p<0,001), FEF_25-75% (p=0,002) e TEF (p<0,001), tendo sido evidenciada redução do GO em relação ao GE. O excesso de peso causou redução dos volumes pulmonares de crianças e adolescentes de acordo com a classificação do IMC e tal evidência pode nortear a inclusão de exercícios respiratórios na abordagem terapêutica desses indivíduos.