PROCESSO DE NORMALIZAÇÃO: SOFRIMENTO SOCIAL E RESISTÊNCIA FEMININA NA CONTEMPORANEIDADE

Joice Cristiane Machado, Mozart Linhares da Silva

Resumo


Esta pesquisa é um desdobramento dos estudos produzidos no projeto de pesquisa "Biopolítica, educação e (des)construção do sujeito negro no Brasil pós-abolição (1888-1945)", desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul e coordenado pelo Professor Doutor Mozart Linhares da Silva, e tem por objetivo analisar os processos de normalização e de sofrimento social referentes ao ser feminino, bem como suas técnicas de resistência a esses processos de subjetivação. Como metodologia foi utilizado o método bibliográfico qualitativo, tomando como objeto de estudo livros e artigos referentes a temática, e tendo como fonte primária textos de revistas dos anos 1910-1930, período cujo o discurso de subjetivação da mulher passa por uma perspectiva eugenista de cuidado do corpo e de si, e estes refletem nas revistas da época. A partir de algumas ferramentas teórico-metodológicas, tais como normalização, subjetivação, sofrimento social e processo de resistência, esta pesquisa procura analisar como a normalização produz a subjetivação do sujeito, ou seja, constrói o modo em que este se percebe como sujeito legítimo na sociedade, e em como esse processo contribui para o sofrimento social feminino, resultando, assim, em algumas formas de resistência. O sujeito, para Foucault, é tido como elaborado, trabalhado e constituído a partir de técnicas de disciplina, normalização e poder. Por normalização entendemos o processo que assujeita o indivíduo e o regula através de dispositivos e suas técnicas de fabricação, como a disciplina e o cuidado de si. A constituição do sujeito feminino obedece a esses processos citados anteriormente, onde este é subjetivado através de discursos de normas sociais e das relações desiguais na sociedade, marcado pelo poder, que assinalam quais são as formas "corretas" e desejáveis do sujeito identificado como feminino se manifestar. Estas formas delimitam o espaço de ação e o papel da mulher na sociedade, provocando o sofrimento social, que é caracterizado como uma condição normalmente associada às populações socialmente excluídas e vítimas de violência, resultando da limitação da capacidade de ação dos sujeitos, e contribui para o desempoderamento das pessoas. Como afirma Veena Das (1997), nas sociedades contemporâneas, a violência e o sofrimento infligidos podem ser interpretados como um preço a pagar pelos indivíduos para vivenciarem sentimentos de pertença identitária e social. Contrário a isso, o ser feminino institui processos de resistência e de oposição aos discursos hegemônicos através dos usos que fazem de seus corpos cotidianamente, atuando para além da submissão a qual são submetidas, significando assim um movimento que não é calculado, mas sim a manutenção da sua existência no jogo social. Para Foucault, podemos entender que a resistência é primeira em relação ao poder, e que não há poder sem resistência. Resistir cria possibilidades de existência a partir de composições de forças inéditas. Destaca-se que esta pesquisa está em andamento, e as análises feitas até o presente momento indicam que o sofrimento social feminino está intimamente ligado aos processos sócio-políticos, instituídos pela normalização e relações de poder, que provocam uma subjetivação desses sujeitos, onde este assume novas formas, inclusive de expressão, utilizando de processos de resistência para garantir sua permanência no jogo social. 

 

 

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