UMA ABORDAGEM COMPLEXA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: A CONVERGÊNCIA ENTRE EDUCAÇÃO, COGNIÇÃO E TECNOLOGIAS TOUCH

Luis Fernando da Veiga, Renata Silveira Borstmann, Nize Maria Campos Pellanda

Resumo


No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) o autismo é categorizado como um "transtorno de neurodesenvolvimento", recebendo o nome de transtornos do espectro autista (TEA), definido como um distúrbio do desenvolvimento neurológico que pode estar presente desde a infância, apresentando déficit nas dimensões sociocomunicativa e comportamental. Respeitamos as classificações dos manuais diagnósticos disponíveis, contudo, nosso entendimento conta com uma ótica complexa, transcendendo o modelo cartesiano que fragmenta os saberes e entendimentos sobre a vida. O presente resumo tem por objetivo explanar as questões oriundas da pesquisa exploratória e qualitativa intitulada "Na ponta dos dedos: o iPad como instrumento complexo de cognição/subjetivação", um dos projetos vinculados ao Grupo de Ações e Investigações Autopoiéticas (GAIA).  O grupo de pesquisa trabalha na perspectiva do Paradigma da Complexidade, articulando os eixos de educação, cognição e subjetivação na construção do conceito de ontoepistemogênese. Este conceito aborda o processo de complexificação de um sujeito, que, ao se acoplar com o seu ambiente, transforma-se de forma integral com repercussões em todas as dimensões de seu ser, ou seja, a autoconstrução é inseparável dos processos do fluxo vital. Temos o intuito de investigar as implicações do uso do iPad em crianças diagnosticadas com TEA para entender como as tecnologias touch podem potencializar a construção do conhecimento a partir do desencadeamento de mecanismos perceptivos, fisiológicos, cognitivos e afetivo-sociais. Em nossa base de estudos enfatizamos a auto-organização, acreditando na neuroplasticidade e na potencialidade de cada sujeito. Durante o período entre agosto de 2015 e julho de 2016 a pesquisa abarcou quatro crianças, entre quatro e treze anos, sendo três do sexo masculino e uma do sexo feminino, moradores dos municípios de Santa Cruz do Sul (RS) e Vera Cruz (RS) diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista. O projeto é desenvolvido dentro da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e as sessões de atendimento/observação acontecem uma vez por semana na sala de espelho do Serviço Integrado de Saúde (SIS) tendo 40 minutos de duração. Criança e pesquisador interagem com o equipamento eletrônico e com todo o ambiente, utilizando jogos, músicas, vídeos e fotografias como ferramentas de criação. No último ano construímos vínculos saudáveis com as crianças e percebemos transformações nos questionamentos e entendimento das propostas, no desenvolvimento da autonomia e no (re)conhecimento das suas subjetividades. A pesquisa tem a sua validade corroborada ao considerarmos os resultados positivos percebidos nas relações interpessoais, no retorno entusiasmado dos pais, na comunicação, na construção dos simbolismos e dos significados, na diminuição da ansiedade e da agitação, no garimpo do interesse por especificidades e no desenvolvimento motor e tátil das crianças. Acreditamos que as tecnologias servem como acoplamentos na forma de viver e aprender dos seres humanos, uma teia complexa que envolve o potencial de cada sujeito, suas nuances e o estilo pessoal e único de conhecer o mundo que o rodeia.

 

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