INTERSECÇÕES ENTRE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E HISTÓRIA POLÍTICA: PRÁTICAS EDUCATIVAS DE COMUNISTAS BRASILEIROS NA ANTIGA UNIÃO SOVIÉTICA

Amanda Assis de Oliveira, Éder da Silva Silveira

Resumo


A Guerra Fria representou um conflito ideológico entre os blocos socialista e capitalista após a Segunda Guerra Mundial. Os representantes máximos dessa bipolarização de poder foram a antiga União Soviética e os Estados Unidos da América. Em boa parte desse período conturbado, comunistas que viviam em países do bloco capitalista acabaram na clandestinidade, embora nela encontrassem meios de agir politicamente. No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) atuou na ilegalidade por quase todo o conflito, passando pelo Estado Novo e a Ditadura Militar. Como forma de resistência, redes de educação clandestina foram montadas e o PCB ministrou cursos que serviram de ingresso para escolas preparatórias de quadros na URSS. As narrativas da experiência soviética motivaram comunistas de vários países a viajar até o local. Muitos escreveram suas experiências em livros de memórias relatando as viagens e atividades desenvolvidas no solo soviético. O objetivo central dessa pesquisa é fazer um levantamento de fontes que abordem as impressões de comunistas que viajaram à antiga União Soviética e suas respectivas práticas educativas.  Esse trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa "Educação clandestina e traição: uma história da educação dos comunistas no Brasil da Guerra Fria" (PPGEdu UNISC), no qual participo como bolsista Probic Fapergs. O estudo está em intersecção entre a História da Educação e a Nova História Política. É um tema que possui ampla documentação, embora pouca produção no meio científico. Os relatos de viajantes comunistas à União Soviética são um conjunto de novas fontes que podem ser usadas nas áreas supracitadas. A metodologia aplicada nesse trabalho é de natureza qualitativa e se pauta em um exercício de revisão bibliográfica de memórias e/ou relatos de viagens de comunistas na URSS, buscando nessas fontes indícios de práticas educativas não formais. O conjunto de fontes mapeado até o momento inclui obras como "O retrato" de Osvaldo Peralva, "Memórias de um Stalinista" de Hércules Corrêa, "União Soviética ou A U.R.S.S. do outro lado do espelho" de Nina Kéhayan e Jean Kéhayan e "Lágrimas da chuva" de Sérgio Faraco. Em "Memórias de um Stalinista" podemos perceber, por exemplo, que havia uma espécie de seleção para a ida à União Soviética. Ao chegar naquele país os militantes participavam de escolas preparatórias de quadros, cujo principal objetivo era se instrumentalizar teoricamente em prol de uma revolução.  O curso possuía conteúdos relacionados à sindicância, filosofia, história do Partido e economia política. Teoricamente são utilizados os conceitos de educação (BRANDÃO, 2002; FREIRE, 1988), clandestinidade (LACERDA FILHO, 2011) e cultura política comunista (MOTTA, 2013).  A investigação está permitindo perceber que existe uma variedade de fontes que, embora potencialmente ricas, não são usualmente utilizadas para a pesquisa da história da educação não formal no Brasil, sobretudo de grupos politicamente organizados e que foram colocados na clandestinidade/ilegalidade no contexto da Ditadura Militar. Além dos livros de caráter autobiográfico e/ou de memórias, outros documentos como jornais vinculados ao Partido e inquéritos policiais militares produzidos pelas polícias políticas do regime militar estão sendo importantes fontes para o estudo e compreensão de uma história da educação dos comunistas do Brasil.


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