LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: A VOZ DO AUTOR E A INSCRIÇÃO DO ESCRITOR

Helena Jungblut, Ana Cláudia Munari Domingos

Resumo


Este resumo vincula-se ao projeto Vozes da cultura contemporânea 2: o narrador na cultura da conexão, coordenado pela Profª Dr. Ana Cláudia Munari, cujo objetivo é refletir sobre mentalidades e tendências da ficção contemporânea, centralizando sua atenção no narrador. Nosso princípio norteador é a percepção recorrente da escrita em primeira pessoa na literatura contemporânea brasileira, ancorada na influência de novas tecnologias em práticas culturais. Acreditamos que a internet trouxe novas mentalidades a partir de transgressões de espaço-tempo, já que somos indivíduos em uma extensa rede de comunicação. A linguagem hipermídia possibilita diferentes formas de produções criativas, em que escrever e publicar, em um contexto hodierno, passam a ser práticas múltiplas e rotineiras - em blogs, redes sociais, sites e portais de periódicos, muitas vezes em conexão com formas impressas. Investigamos, portanto, o agenciamento da convergência de linguagens sobre os fenômenos literários, na esteira do que já o foram para a literatura o cinema e a televisão (GALVÃO, 2016). Nossa metodologia é baseada na análise e interpretação dos textos literários, a partir de um corpus constituído por romances premiados nos prêmios Jabuti e Oceanos a partir de 1994 e 2003, respectivamente. A leitura e a interpretação dessas obras visam a uma comparação que busca características nos processos de escritura e nos elementos narrativos que inovam na forma do dizer. Dentre as constatações, destacamos aqui o emprego de recursos gráficos para marcar distinções de vozes e narrações, e a isso relacionamos a tendência da aproximação entre a voz que narra com a que cria - além de coincidências biográficas entre a figura autoral, em alguns dos romances foi possível perceber a coexistência do discurso do escritor e o do narrador. Em textos-folhetim do romantismo, narradores como os de Machado de Assis conversavam com seus leitores; no contemporâneo e em nossa pesquisa, levantamos a hipótese de que escritores continuam a dialogar, mas através de uma inscrição diferente, a da presença de quem escreve no texto a partir do narrador por meio de notas de rodapé, colchetes, itálicos etc. Ou seja, faz-se da voz uma materialidade, redimensionando a forma e o significado das palavras para a interpretação do leitor. Também relacionamos essas formas à metaficção, em que percebemos não somente a voz de alguém que conta uma história, mas a presença de quem cria, fazendo surgir o próprio processo da escritura. Neste trabalho, faremos uma pontuação entre os romances em que percebemos este registro, como Nove noites (2002), Mongólia (2003), Glória (2012), Opisanie Swiata (2013), Reprodução (2013) e Vista parcial da noite (2006). Este último, por exemplo, descreve o afogamento de um menino sacrificado pelo pai e acresce três inscrições visuais ao relato: a palavra "submergiu" é cinco vezes repetida enquanto a criança tenta se salvar; o chamado "Pai!" aparece em negrito (ressaltando o apelo); e é disposto, em vertical, o verbo "submergiu", sugerindo o movimento de submersão. Portanto, o que buscamos mostrar é que o narrador, hoje, conta com uma ajuda externa, real, de um alguém que o ajuda a criar movimentações dentro da obra. A forma de um texto proposta por seu criador se relaciona ao seu conteúdo, busca inovar frente às inúmeras histórias e informações do mundo contemporâneo e, sobretudo, participa de uma cultura sensibilizada por recursos visuais - cinema, televisão, publicidade e internet.

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