CLARICE LISPECTOR: UMA VOZ FEMININA DE TODOS OS TEMPOS

Natalia Gutterres Petry, Eunice Terezinha Piazza Gai

Resumo


Este estudo vincula-se ao projeto de pesquisa "Os estudos acadêmicos de literatura: pressupostos teóricos e aplicabilidades", coordenado pela Profª Drª Eunice Terezinha Piazza Gai que contempla a realização de investigações a partir de uma perspectiva hermenêutica, propondo reflexões de natureza ontológica em relação ao texto que é lido. São utilizados os entendimentos propostos por alguns teóricos como Palmer, acerca da leitura interpretativa, com o objetivo de fazer um estudo da narrativa da obra Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector. Neste trabalho, busca-se compreender a estrutura do romance e pontos de vista ali presentes, principalmente em relação à personagem principal. De acordo com Palmer, em Hermenêutica (1969), o processo de decifração e entendimento de uma obra é o ponto central da hermenêutica, e essa tem como propósito o estudo da compreensão. O entendimento deste texto de estreia de Clarice na literatura fundamenta-se nessa base teórica, pois nenhum método de análise científica tornaria esta obra uma tarefa simples de ser compreendida, pelo contrário, tiraria o intimismo e a intensidade da escrita da autora. Palmer observa que essas produções precisam de uma hermenêutica, de uma ciência adequada da sua compreensão, pois, ao aplicar métodos de análise científica, elas são tratadas como objetos silenciosos e naturais, enquanto que, para compreendê-las, são necessários modos de aproximação mais sutis. O campo da hermenêutica nasceu como esforço para descrever os modos de compreensão. Clarice Lispector, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, foi uma premiada escritora e jornalista. Escreveu contos, romances e crônicas e é considerada uma das escritoras mais importantes do século XX. Retrata o cotidiano de forma simples e é conhecida pela sua escrita intimista e pelos fluxos de consciência que acabam em epifania de seus personagens. Perto do coração selvagem conta a história de Joana, uma personagem intensa e que nos leva a entrar em sua intensidade. O livro intercala entre a narrativa em terceira pessoa e os pensamentos e fluxos de consciência de Joana em primeira pessoa. A história começa quando Joana era pequena, e logo a narrativa passa por um grande avanço na linha cronológica. Joana fora criada por seu pai, já que sua mãe, Elza, morrera muito cedo. Depois de um tempo, seu pai também morre e Joana vai morar com sua tia por parte de pai. Depois de um episódio em que Joana rouba um livro, seus tios decidem colocá-la em um internato. Apaixona-se por seu professor um pouco mais velho. Quando sai do internato, encontra Otávio, e após um breve romance, casam-se. Otávio casa com Joana, mas mantém o relacionamento com sua ex noiva em segredo. Certo dia, Joana percebe um homem desconhecido que a segue e os dois passam a ter encontros. Após o rompimento definitivo com Otávio, o homem desconhecido lhe deixa um bilhete, dizendo que precisa partir e pede-lhe que o espere. Joana acaba por partir também, embarcando sozinha em uma viagem não muito bem definida, dando a entender que a partir daí poderia se resgatar. A obra trabalha as questões psicológicas do ser humano, as angústias, os medos e o cotidiano. Sua ficção se concentra nas regiões mais profundas do inconsciente, deixando o plano externo de lado, pois o que realmente importa é o que acontece dentro da mente de seus personagens. A autora centra a sua obra no indivíduo e nas suas mais íntimas aflições.

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