OCUPAÇÃO ESPACIAL DE PEIXES GYMNOTIFORMES DE BAIXO CAMPO ELÉTRICO EM UM CÓRREGO EM RINCÃO DEL REY, RIO PARDO, RS, BRASIL

Samuel Augusto da Silva, Paulo Francisco Kuester, Karl Heiz Willi Esser, Andreas Köhler

Resumo


Endêmicos da região Neotropical, os Gymnotiformes representa um importante grupo da ictiofauna de água doce. São popularmente conhecidos como “peixes elétricos” por serem capazes de produzir um campo elétrico ao seu entorno. A ordem Gymnotiformes possui 240 espécies identificadas até o momento, distribuídas em 34 gêneros. O conhecimento sobre os Gymnotiformes tem aumentado significativamente nos últimos anos, principalmente pelas novas técnicas adotadas para caracterizar a morfologia, eletrofisiologia, diferenças genéticas e fosseis. Os gêneros Gymnotus Linnaeus, 1758 e Eingenmannia Jordan & Evermann, 1896 possuem morfologia distintas, onde o Gymnotus possui a maxila inferior proeminente e a nadadeira anal se estendendo até a extremidade inferior do corpo, diferente do Eingenmannia que a nadadeira anal não se estende até o final da extremidade inferior do corpo e possui a maxila inferior diminuta.  Além das características morfológicas, a eletrofisiologia dos dois gêneros é diferente, onde o Gymnotus possui uma corrente elétrica pulsadora e o Eigenmannia é ondulador. Com base no pouco conhecimento que se tem sobre a interação desses indivíduos com o meio em que habitam, e para ampliar o ainda mais o que já se sabe sobre a eletrofisiologia dos dois gêneros em estudo, este trabalho tem como objetivo caracterizar a preferência no ambiente onde vivem e diferenças eletrofisiológicas entre Gymnotus e Eingenmannia. O trabalho foi realizado na localidade de Rincão Del Rey, no município de Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil, em um trecho de 200 metros dentro do córrego. Com o auxilio de um “eletric-fish-finder” foi possível localizar os peixes-elétricos sem precisar coletar, e assim identificando o gênero pelo som amplificado pelo aparelho, que basicamente transforma a corrente elétrica emitida pelos animais em ondas sonoras. Para a medição do córrego foi utilizado uma fita métrica, sendo a cada um dos 276 metros do córrego verificado a largura e a presença ou não dos peixes. Sendo assim foi possível elaborar um mapa do córrego, junto a localização dos indivíduos de peixes. Ao longo do trajeto foi possível captar o sinal de 178 espécimes, 108 indivíduos de Gymnotus e 70 de Eigenmannia. Nos 76 metros de córrego, representando os trechos de curvo do córrego, foi possível captar 126 individuos, sendo 88 Gymnotus e 38 Eigenmannia, e nos 200 metros de reta 52 individuos, 20 Gymnotus e 32 Eigenmannia. Analisando a distribuição dos peixes em curvas ou retas, há uma diferença significativa quanto à preferência do local, sendo que a média simples dos indivíduos foi de 1,65 ind./m em curvas e 0,26 ind./ m em retas. Além disso, os sinais de Gymnotus foram com mais frequências no fundo ou meia profundidade do córrego, comparado com os de Eigenmannia, que habitam principalmente os estratos superiores. Está preferência de locais é demonstrada em alguns estudos sobre os Gymnotus, em que, por suportarem uma quantidade menor de oxigênio na água, vivem em locais lênticos, ricos em matéria orgânica. Já, quanto à preferência dos Eigenmannia há poucos estudos sobre os locais onde habitam. Tendo em vista que o presente estudo foi realizado em períodos diurnos, não foi possível verificar a presença deles vagando livremente no ambiente, por se tratarem de animais de habito noturno e territorialistas. Sendo assim, os dados representam o primeiro estudo ecológico desta ordem no Vale do Rio Pardo, mas há muito estudo a se fazer sobre a ecologia desses animais. 


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