MULHER, EDUCAÇÃO E COMUNISMO: AS RELAÇÕES DE GÊNERO NA CULTURA POLÍTICA COMUNISTA DO BRASIL DA GUERRA FRIA

Marcelly Machado Cruz, Éder da Silva Silveira

Resumo


Este trabalho é resultado de um recorte de pesquisa vinculado ao projeto de pesquisa “Educação Clandestina e Traição: uma história da educação dos comunistas do Brasil da Guerra Fria” do PPGEdu/UNISC[1], que se empenha no estudo das práticas e mecanismos de educação empregados na cultura política comunista no Brasil durante o período histórico da Guerra Fria. A pesquisa insere-se no campo da História da Educação, buscando contribuir, concomitantemente, para os estudos na área da História das Mulheres. A presente comunicação faz uma breve discussão sobre os contrastes existentes dentro de uma ideologia imbuída de princípios igualitários e a exclusão e opressão das mulheres dentro dos núcleos comunistas e como, através da educação dos comunistas, a questão de gênero fazia-se presente na cultura política comunista. Metodologicamente, esta pesquisa desenvolveu-se a partir da análise de relatos – narrativas sobre si – das ex-militantes Maria Amélia de Almeida Teles, Zuleika Alambert, Vera Silvia de Araújo Magalhães e Nilce Azevedo Cardoso, encontrados na bibliográfica levantada. Entende-se gênero como um sistema de dominação-exploração, regido por normativas sociais que incidem sobre os corpos sexuados, regulando-os e determinando estereótipos e papeis a serem exercidos pelos indivíduos. O gênero é produto das relações sociais e seus mecanismos de captura transbordam sobre todos os campos do conhecimento e vida social, dentre eles cultura e educação. Nesse sentido, a educação é perpassada pela cultura e como prática social e ferramenta de luta política reforça, muitas vezes, o sistema de gênero, cerceando a liberdade dos indivíduos pela propagação de representações socialmente (re)produzidas. Na cultura política comunista do Brasil da Guerra Fria, fortemente enraizada numa estrutura patriarcal hierarquizada e com simbolismos pungentes, às mulheres se delegava cargos e tarefas socialmente compreendidas como femininas – funções administrativas, trabalhos domésticos e cargos de baixa hierarquia. Ademais, nas cartilhas comunistas usadas na formação política dos jovens militantes, a imagem do arquétipo do comunista exemplar era sempre ilustrada na figura masculina, evidenciando o consenso de que o espaço das mulheres na luta anticapitalista era como coadjuvante submissa, secundária. Todavia, os serviços triviais e sexistas a que estavam sujeitas  não impediram que inúmeras militantes adentrassem à luta armada, galgassem cargos importantes e efetuassem funções esperadas, dentro do imaginário comunista, de um homem.



[1] Projeto 16/2551-0000360-2, Edital ARD/PPP 2014 FAPERGS.


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