EDUCAÇÃO E CLANDESTINIDADE NAS PÁGINAS DO JORNAL “A CLASSE OPERÁRIA” (1968-1974)

Marieli Elena Muller, Amanda Assis de Oliveira, Éder da Silva Silveira

Resumo


Esse trabalho está vinculado ao projeto “Educação clandestina e traição: uma história da educação dos comunistas no Brasil da Guerra Fria” (Edital ARD/PPP 2014 da FAPERGS/CNPq- Execução 2016-2018). Trata-se de uma intersecção entre a História da Educação e a Nova História Política. O principal objetivo é compreender algumas práticas educativas não formais de comunistas brasileiros registradas no jornal “A classe operária” durante os “Anos de Chumbo” da Ditadura Militar (1968-1974), fase em que, já como órgão oficial do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o jornal circulou de forma clandestina. O jornal foi criado em 1925, no Rio de Janeiro, pelo PCB (Partido Comunista do Brasil) e, como o nome do próprio jornal sugere, era destinado a divulgar as principais causas comunistas no seio da classe trabalhadora. “A classe operária” circulou com interrupções até 1952, quando foi fechado pelo PCB. Após a grande cisão de 1962, quando grupos dissidentes se retiram do PCB e fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o jornal tornou-se órgão oficial do PCdoB. Teoricamente, os conceitos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa são os de educação não formal, clandestinidade, imprensa e cultura política comunista. A metodologia é de cunho qualitativo e se pauta na análise de conteúdo de 71 exemplares do jornal supracitado entre os anos de 1968 a 1974. Esse recorte temporal condiz com um dos períodos mais repressivos do regime ditatorial, sob a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. O contexto político da época foi marcado pelo Ato Institucional Número 5 (AI-5), instituído no governo de Artur da Costa e Silva, em 1968. O AI-5 suspendia as garantias individuais, como o habeas corpus por crimes políticos, e censurava a imprensa e manifestações artísticas que fossem contra “a moral e os bons costumes”.  Grupos políticos que fossem contra o regime militar foram perseguidos, torturados ou mortos. Dessa forma, como forma de resistência, redes de educação clandestina foram importantes para a sobrevivência de partidos comunistas colocados na ilegalidade. Através da leitura desses jornais pode-se concluir que algumas formas de práticas educativas usadas pelos militantes do partido durante esse período repressivo incluíam jornais, comícios, congressos, assembleias, livros, entrevistas, pichamentos, simpósios, rádios clandestinas, poemas, palestras, entre outros. O jornal, que circulou na clandestinidade no referido período, foi um importante instrumento de educação e formação política. A análise dessa fonte de pesquisa permite conceber a educação comunista como uma prática social, onde a própria militância política se constitui em forma e espaço de educação.

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