SEMENTES CARBONIZADAS E POSSIBILIDADES DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS.

João Pedro Ackele Mallmann, Fernanda Schneider, Neli T. Galarce Machado

Resumo


Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa Arqueologia, História Ambiental e Etno-história do RS, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates e ao Laboratório de Arqueologia da mesma instituição. O tema remete à dieta alimentar de populações Guarani que habitaram o centro-sul da Bacia do Rio Taquari/Antas entre os séculos XIV e XVIII. Advindos da Amazônia há mais de dois milênios, ocuparam um extenso território que atualmente representa partes da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Objetiva-se com este trabalho identificar espécies de plantas utilizadas por essas sociedades em seus assentamentos estabelecidos na Bacia do Rio Taquari/Antas. Foram selecionadas sementes carbonizadas evidenciadas no sítio arqueológico RS-T-114, localizado na cidade de Marques de Souza/RS, totalizando 453 vestígios. Para a identificação do taxa dos vestígios utilizou-se comparação morfológica com amostras botânicas dispostas em bancos de dados virtuais e bibliográficos, seguindo os atributos morfológicos apresentados na literatura especializada. Foram identificados até o momento 270 vestígios, totalizando 59,6% da coleção. Constatou-se a presença de 36 fragmentos de endocarpos de palmeiras da família Arecaceae (7,9%), sendo que sete destes são de Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman (jerivá) (1,6%). 181 vestígios demonstraram relação com grãos e sabugo de Zea mays L. (milho) (40,4%). 51 fragmentos em formato “rim” e dois fragmentos de vagem apresentaram-se sugestivos para a família Fabaceae (5,3%), incluindo vestígios com caraterísticas sugestivas para feijões ou ingás. Esses resultados atestam a potencialidade da identificação da dieta alimentar dessas populações a partir de vestígios botânicos carbonizados, visto que em áreas tropicais e subtropicais há uma baixa conservação de restos orgânicos. Esses resultados confirmam também as informações etno-históricas de que os Guarani cultivariam espécies domesticadas, praticando agricultura de floresta, assim como utilizariam recursos florestais do entorno do sítio arqueológico, como observado a partir da presença de palmeiras. Devido à alta incidência de vestígios de milho na coleção, representando quase metade desta, sugere-se que o cultivo representou uma importante fonte alimentar e simbólica para os Guarani, incluindo a elaboração de receitas sólidas, como as farinhas, e líquidas, como o cauim, bebida fermentada utilizada durante as atividades festivas ocorridas nas aldeias.


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