A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM REDAÇÕES SOB O VIÉS DA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA

Cristiano Sandim Paschoal, Cristiane Dall Cortivo Lebler

Resumo


A capacidade de argumentar tornou-se uma importantíssima maneira de o homem exercer sua cidadania e atuar de forma relevante em seu meio social. Nas sociedades letradas, por exemplo, faz-se muito a avaliação de textos dissertativo-argumentativos como forma de recrutamento para ingresso no ensino superior, uma suposta colocação no mercado de trabalho, um bom desempenho do aluno no sistema regular de ensino (Fundamental e Médio), entre outras. Optando-se, dentre essas formas de recrutamento, a do ingresso no ensino superior, o projeto de pesquisa “A escrita, a reescrita e a construção de sentido” visa analisar a abordagem e o desenvolvimento do tema em redações de vestibulandos. Especificou-se, para isso, a proposta de redação de vestibular de verão de 2016, de uma universidade do Rio Grande do Sul, na qual foram apresentadas aos candidatos três opções de temáticas a serem desenvolvidas, na seguinte ordem: TEMA 1 propôs ao candidato o enfoque entre a relação política e politicalha; TEMA 2 propôs a abordagem sobre as estratégias de alienação da sociedade contemporânea; TEMA 3 propôs a argumentação sobre a solidariedade enquanto bem social. Contemplaram-se, no presente projeto, as redações que desenvolveram o tema de número 3, cujas notas que lhes foram atribuídas pela banca avaliadora variam entre 2,0 pontos a 10,0 pontos. A fim de identificar quais argumentações colaboraram para um bom desempenho na abordagem e desenvolvimento do tema, estabeleceu-se um corpus de 40 redações. Fundamentou-se, para a devida análise, na Teoria de Argumentação na Língua, desenvolvida pelo semanticista Oswald Ducrot e seus colaboradores. Essa teoria, que tem como alicerces a teoria estruturalista de Saussure e a teoria enunciativa de Benveniste, afirma, em termos gerais, que a língua é essencialmente argumentativa e se configura num discurso cuja organização dar-se-á por encadeamentos argumentativos relacionados entre si, aparecendo sob duas formas: NORMATIVA, cujo sentido é conclusivo/consecutivo e, em português configurar-se-á no conector portanto; TRANSGRESSIVA, cujo sentido é concessivo e, em português, será entretanto.  Observou-se, na análise do corpus, como foi inexpressivo o número de boas construções de sentido no discurso argumentativo, uma vez que a boa qualidade sintático-semântica de um texto ocorre através do uso de encadeamentos discursivos selecionados, adequadamente, pelo escritor. Nesse sentido, a análise quantitativa do corpus selecionado (40 redações) revelou que apenas 10% das redações utilizaram 4 conectores, sendo este o número máximo de ocorrência; 25% utilizaram 3 conectores; e 65% apresentaram, no máximo, 2 conectores, sendo que em duas redações do corpus total ocorreu a inexistência de conector, apresentando assim apenas um parágrafo. Conclui-se que na proposta de redação haviam quatro possibilidades de encadeamentos normativos e uma de encadeamento transgressivo, sendo que o último exigia do candidato uma visão mais ampla do que as expressas nos minitextos da proposta. Associado a isso, comprovou-se que 100% das redações avaliadas optaram por algum encadeamento normativo, dentre as quais 22,5% delas expressaram apenas a ideia do encadeamento, porém não fizeram uso de seus conectores representativos.


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