O presente trabalho se propõe a analisar o papel dos adjetivos na construção de sentido no discurso e, principalmente, como eles podem expressar o ponto de vista do locutor sobre determinado assunto. Para isso, foram utilizados como referencial teórico as noções próprias da Teoria da Argumentação da Língua (TAL), desenvolvida por Oswald Ducrot e colaboradores, principalmente a sua fase mais recente, a Teoria dos Blocos Semânticos (TBS), aplicadas ao texto "Tempo Perdido", de Sírio Possenti. A Teoria da Argumentação da Língua surgiu a partir do livro Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, pois, para Ducrot (2005, p 11) “a TAL é uma aplicação do estruturalismo saussuriano para a semântica linguística, na medida em que, para Saussure, o significado de uma expressão reside das relações dessa expressão com outras expressões da língua”. Esta teoria postula que a argumentação está enraizada na língua e só ela oferece subsídios para se chegar ao entendimento do sentido no discurso; isto quer dizer que a argumentação não se baseia em fatores externos à língua, ou seja, no conhecimento de mundo do falante. Portanto, para Ducrot (2009), a argumentação linguística não tem nenhuma relação com a argumentação retórica, que é a atividade verbal que visa fazer alguém crer em alguma coisa, sem que haja, necessariamente, uso de recursos linguísticos. A TAL passou por modificações, até chegar a sua fase atual, a Teoria dos Blocos Semânticos. Nesta fase da teoria, Ducrot e Carel afirmam que a argumentação linguística se constitui de dois segmentos X e Y unidos por um conector (normativo ou transgressivo) que juntos formam um encadeamento do tipo X CON Y, sendo que o encadeamento pode ser do tipo normativo, com conectores em portanto (abreviado PT), ou normativos, com conectores em no entanto (abreviado NE). Ducrot também traz para o seu estudo a Teoria Polifônica da Enunciação, cujo objetivo é contestar a ideia de unicidade do sujeito falante. Isto posto, além de apresentar os princípios pertencentes à TAL, este trabalho também distinguiu o papel dos adjetivos na abordagem gramatical e na abordagem centrada no uso, isto é, seus aspectos morfossintáticos e semânticos A abordagem gramatical evidenciou que, de acordo com suas características morfossintáticas, os adjetivos podem apresentar traços que o diferem de outras classes de palavras. Esta abordagem difere da semântica, pois estuda as palavras isoladas de seu contexto de uso.  Já a abordagem semântica analisou adjetivos como modificadores realizantes e desrealizantes. No texto "Tempo Perdido", escolhido como corpus deste trabalho, Sírio Possenti utilizou os adjetivos para expressar sua posição contrária em relação à forma como os professores de português ensinam a sua língua materna. Com isso, o trabalho mostrou que a adjetivo está longe de ser apenas um caracterizador do substantivo (como apontado em diversas Gramáticas Normativas e como ensinado nas escolas), podendo ser um excelente, e essencial, recurso para a argumentação.