A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA ÁREA DE SAÚDE EM UM HOSPITAL NO VALE DO RIO PARDO: ENTRE O TRABALHO REAL E PRESCRITO.

Larissa Pacheco dos Santos, Yohanna Breunig, Moacir Fernando Viegas

Resumo


O presente resumo é resultado de reflexões realizadas a partir da pesquisa “Classe e cultura nas práticas educativas dos trabalhadores de enfermagem de um hospital do Vale do Rio Pardo - FASE II” realizada na Universidade de Santa Cruz do Sul, no período de 2012 a 2017. A pesquisa é de natureza qualitativa e seus sujeitos são técnicas e enfermeiras de um hospital do Vale do Rio Pardo. Através de observações de campo, questionários e entrevistas, buscamos analisar e compreender as relações de trabalho que se estabelecem neste ambiente, bem como entender de que forma este interfere na vida das trabalhadoras da área da saúde. Trazemos o conceito e o uso da tecnologia na área da saúde como um grupo de conhecimentos, modelos de organização, maquinário, entre outros, que está presente nas relações que se estabelecem entre os indivíduos de inúmeras formas e, portanto, interfere de forma negativa ou positiva no trabalho. Questões como a intensificação do trabalho, a relação com a saúde pessoal, reconhecimento, experiência e a maneira como a organização do trabalho afeta o próprio ato são levantadas. Notamos o quanto o trabalho prescrito difere do trabalho real, visto que o primeiro se refere às normas e diretrizes atribuídas às funções de cada cargo, enquanto o trabalho real diz respeito ao que é realizado na prática. Também podemos perceber que há um espaço entre ambos, em que os sujeitos se deparam com imprevistos e precisam dar conta disso, criando novas possibilidades denominadas o real do trabalho. Apesar da autonomia que os profissionais da saúde encontram a partir do real do trabalho, eles também se deparam com questões mais enrijecidas, em que há a divisão técnica do trabalho, a fragmentação e a hierarquização das atividades. Assim como essas questões, também faz parte da organização do trabalho a flexibilização a que os profissionais estão expostos. Atualmente, especialmente o enfermeiro e o técnico de enfermagem, possuem a necessidade de estar sempre se qualificando e devido a isso sofrem maior flexibilização nos locais de trabalho. Outro ponto de destaque é o trabalho de cuidado e o trabalho emocional, que não têm sido vistos nem reconhecidos da maneira como os funcionários acham que deveria ser. A partir de uma construção social que vê o trabalho de cuidar como um “dom” feminino, os trabalhos de cuidado e emocional são vistos como algo nato da mulher e que, portanto, não precisam ser reconhecidos e/ou valorizados economicamente. Essas atividades não são vistas como habilidades que foram sendo adquiridas ao longo do tempo, resultando em má remuneração. A partir dos conceitos e percepções acima descritos, compreendemos que em todas as relações de trabalho novos saberes são desenvolvidos, já que para a realização do que foi prescrito o trabalhador utiliza conhecimentos que adquiriu ao longo do tempo, além de experiências e valores que carrega consigo. Sendo assim, salientamos a importância do reconhecimento e da visibilidade que deve ser atribuída aos profissionais da saúde, para que possam dar sentido ao seu fazer, contribuindo para que o sujeito tenha uma melhor qualidade de vida no trabalho.

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