AS ARTICULAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS DO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE: A EXPERIÊNCIA DO EXÍLIO E A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO NA EDUCAÇÃO LIBERTADORA.

Ângela Cristine Schulz, Kellen Lisandra Santos, Cheron Zanini Moretti

Resumo


O presente trabalho está vinculado ao Projeto de Pesquisa Educação Popular e Pesquisa Ação-Participante: processos emancipatórios e (des)colonialidade na América Latina, que está sendo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de Santa Cruz do Sul. Desde o início de 2016, em um trabalho coletivo com a Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), desenvolvemos o subprojeto "As articulações teóricas e metodológicas do pensamento de Paulo Freire: diálogos explícitos, implícitos e possíveis" que tem como objetivo compreender as raízes prático-teóricas de pedagogia libertadora na obra de Paulo Freire (1921-1997) em seus referentes explícitos (diretos) e implícitos (experiências). Este grupo de pesquisadores/as é formado pelos/as professores/as, estudantes do mestrado, do doutorado e da graduação, especialmente, bolsistas de iniciação científica das universidades citadas anteriormente. A metodologia está fundamentada na leitura dos 32 livros publicados no Brasil, em língua portuguesa, divididos em cinco períodos: 1) até 1964, antes do Golpe Civil Militar; 2) até 1980, no período de exílio; 3) pós-1980, retorno do exílio-obras dialogadas; 4) escritos pós experiência de gestão na Secretaria Municipal de Educação, em São Paulo (SME-SP); e, 5) obras organizadas, póstumas. Dando prosseguimento, realizamos o fichamento das respectivas obras, identificando os principais referenciais teóricos, bem como vivências de Freire para, então, organizar as informações em três grupos definidos por critério de recorrência nas citações e na relevância/influência no pensamento freireano. Estas articulações foram transformadas em verbetes, destacando a “organicidade” teórica e metodológica na obra de Paulo Freire. Alguns resultados relevantes: 527 autores/as são citados/as direta ou indiretamente; o mais recorrente e relevante é Karl Marx (1818-1883), citado em 22 obras, seguido de: Amílcar Cabral, 14 obras; Frantz Fanon, Jean Piaget, Albert Memmi e Antonio Gramsci, 10 obras cada um. Dentre todos, apresentamos as articulações teórico-metodológicas de: Rosa Luxemburgo (1871-1919), Che Guevara (1928-1967) e Rosiska Darcy de Oliveira (1944) e sua experiência no exílio. Luxemburgo é citada por Freire no livro Pedagogia do Oprimido (1974) na crítica que faz ao privilégio do conhecimento para apenas algumas pessoas, refletindo que o(a) revolucionário(a) deve aprender junto com o povo, pelo diálogo e diminuindo o abismo epistêmico que pode separá-los. Dialogando com essa discussão, destacamos Che Guevara, que, de acordo com Freire, é um líder revolucionário que tem a humildade de aprender com o povo e é “um dos maiores profetas dos silenciosos do Terceiro Mundo” (FREIRE, 1981, p.66). Em relação à Rosiska Darcy de Oliveira, destacamos que esta tem sua carreira como jornalista interrompida por seu exílio em Genebra e, em 1971, funda, juntamente com Freire e com um grupo de brasileiros exilados, o Instituto de Ação Cultural (IDAC). Sendo assim, para ambos, o distanciamento de seu país de origem e a condição de exilados, contribuíram para um processo pedagógico de transformação e de autoconhecimento, encontrando um instinto de sobrevivência para continuar lutando e se reinventando fora de seu contexto histórico.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.