Muitas comunidades brasileiras, em particular no interior do estado do Rio Grande do Sul, consomem água com altas concentrações de fluoreto. A ingestão de água com níveis acima do permitido pela Portaria nº 2914/2011, do Ministério da Saúde (1,5 mg L^-1) causa uma patologia chamada de fluorose dental (mineralização defeituosa do esmalte, originada da exposição do germe dentário durante o seu processo de formação, diretamente associada à quantidade ingerida por altas concentrações de fluoreto). Diante disso, foi desenvolvido um sistema de desfluoretação para o tratamento de águas subterrâneas, utilizando carvão ativado de osso granulado como meio filtrante, no qual, após sua saturação são adicionados sais de cálcio e fósforo a fim de auxiliar no processo de desfluoretação. O sistema foi dimensionado utilizando o software Defluoridation, proposto pelo grupo de pesquisa e foi constituído por um tanque (filtro) Poly Glass® com revestimento de polietileno transparente de alta densidade e encapsulado com polímero de engenharia, que foi preenchido com 25 kg de carvão ativado de osso de diâmetro de partícula de 20 x 50 mesh, duas bombas dosadoras de reagentes, um filtro auxiliar de fibra de celulose e um reator em espiral. Instalado na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), bloco 12, o sistema é abastecido com água subterrânea que apresenta concentração de fluoreto entre 2,4 e 3,0 mg L^-1, com uma vazão média de 38 L/h. O mecanismo de adsorção saturou após o tratamento de 13.000 litros de água, cujos resultados médios de pH, fluoreto, condutividade elétrica, turbidez, sódio, potássio, dureza, fosfato e sólidos totais dissolvidos foram (média±desvio-padrão): 9,2±0,2, 0,17±0,32, 586,1±263,5, <0,02, 103,5±74,5, 5,0±25,5, 2,2±1,5, 3,27±3,93 e 424,9±191,0 respectivamente. A elevada variação dos resultados de fluoreto, condutividade elétrica, sódio, potássio, dureza, fosfato e sólidos totais dissolvidos é resultante dos processos de adsorção e dessorção de íons que ocorrem, especialmente no início da operação do sistema. Contudo, todos os resultados estão de acordo com os limites determinados na Portaria nº 2914/2011. Após a saturação do sistema de desfluoretação, o monitoramento foi mantido até que a concentração de fluoreto na água tratada fosse equivalente ao da agua bruta (2,4 e 3,0 mg L^-1), para completa saturação do meio adsorvente. Neste período extra, foram filtrados mais 7.000 litros, cujos valores médios de flúor foram 2,10±0,32. Cabe destacar, que no início do processo 180 litros de água foram utilizados para a purga do sistema, removendo extraíveis da coluna de carvão ativado. Na sequência deste estudo, será implementado o processo de desfluoretação por precipitação por contato, por meio da dosagem das soluções de CaCl₂ e K₂HPO₄, cujo dimensionamento de operação será realizado utilizando o software Defluoridation, desenvolvido pelo grupo de pesquisa.