USO DE MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INADEQUADOS POR IDOSOS NOS SERVIÇOS DE CARDIOLOGIA E ENDOCRINOLOGIA DE UM AMBULATÓRIO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS
Resumo
Este trabalho integra a pesquisa “Avaliação de Processos e Práticas Implementados na Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Cardiovasculares e Diabetes Mellitus” que está sendo realizada pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Sistemas de Saúde (GEDESS), vinculado a Univates. A taxa de idosos tem aumentado ao longo dos anos no Brasil, paralelamente a incidência de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e o Diabetes Mellitus tipo II. A farmacoterapia é especialmente comum nesta população, com perfil farmacocinético e farmacodinâmico de certa singularidade, devido às patologias desenvolvidas e ao processo de senescência celular. A complexidade dos problemas de saúde por vezes requer a prescrição de cinco ou mais fármacos, caracterizando a polifarmácia. Alguns medicamentos são considerados potencialmente inadequados (MPI) para o uso em idosos, tensionando para a avaliação de segurança pelo emprego de instrumentos como os Critérios de Beers (CB), desenvolvidos para auxiliar na prescrição e na revisão da farmacoterapia. O objetivo do presente estudo é verificar a prevalência do uso de MPI, segundo os CB, por idosos atendidos em um Ambulatório de Especialidades Médicas, em 2017, nos serviços de Cardiologia e Endocrinologia. Trata-se de um estudo analítico e transversal. Obteve-se os dados à partir das informações dos prontuários eletrônicos, de pacientes com 60 anos ou mais (n=132). A análise estatística foi realizada mediante o emprego do SPSS versão 25.0. Foram analisadas variáveis sociodemográficas e os medicamentos prescritos foram categorizados pelos CB, em: 1) MPI que devem ser evitados em qualquer condição clínica; 2) MPI que devem ser utilizados com precaução em idosos. A análise das variáveis sociodemográficas evidenciou maior frequência de indivíduos do sexo feminino (53%; n=70), idade média de 70,24 anos (± 7,06), de cor branca (96,2%; n=127) e que vivem sem companheiro(a) (51,5%; n=68). A prevalência de polifarmácia foi de 66,66% (n=88), com mediana de medicamentos/prescrição de 6, com valor mínimo igual a 1 e máximo igual 16 medicamentos. Em relação às categorias dos CB, 63,6% (n=84) dos indivíduos utilizam medicamentos que devem ser evitados em qualquer condição clínica e 79,5% (n=105) utilizam medicamentos que necessitam de precaução, sendo que 53,03% (n=70) utilizam medicamentos listados nas duas categorias. Os medicamentos mais utilizados da primeira categoria foram relacionados ao sistema gastrointestinal (40,27%), sendo o omeprazol o mais prescrito. Os medicamentos mais utilizados da segunda categoria foram os diuréticos (50%), sendo a furosemida o mais prescrito. Os fármacos inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, tem “forte” intensidade de recomendação de serem evitados, e “alta” qualidade de evidência segundo os CB. Seu uso por mais de oito semanas aumenta o risco de infecção por Clostridium difficile, perda óssea e consequente fraturas, além de estar relacionado com o desenvolvimento de demência. Já o uso de diuréticos tem “moderada” intensidade de recomendação de serem evitados e “forte” qualidade de evidência segundo os CB, sugerindo monitoramento bioquímico específico. Maior divulgação da farmacologia clínica do idoso é necessária, além de inovação para otimizar o uso dos instrumentos já existentes, como aplicativos ou a incorporação dos instrumentos nos próprios programas de prontuários eletrônicos dos estabelecimentos de saúde.
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