USO DE MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INADEQUADOS POR IDOSOS NOS SERVIÇOS DE CARDIOLOGIA E ENDOCRINOLOGIA DE UM AMBULATÓRIO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS

Jordana Kich, Rebeca Kimberley Aamot Nelson, Alessandro Menna Alves, Camila Furtado de Souza, Luís César de Castro, Cássia Regina Gotler Medeiros

Resumo


Este trabalho integra a pesquisa “Avaliação de Processos e Práticas Implementados na Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Cardiovasculares e Diabetes Mellitus” que está sendo realizada pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Sistemas de Saúde (GEDESS), vinculado a Univates. A taxa de idosos tem aumentado ao longo dos anos no Brasil, paralelamente a incidência de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e o Diabetes Mellitus tipo II. A farmacoterapia é especialmente comum nesta população, com perfil farmacocinético e farmacodinâmico de certa singularidade, devido às patologias desenvolvidas e ao processo de senescência celular. A complexidade dos problemas de saúde por vezes requer a prescrição de cinco ou mais fármacos, caracterizando a polifarmácia. Alguns medicamentos são considerados potencialmente inadequados (MPI) para o uso em idosos, tensionando para a avaliação de segurança pelo emprego de instrumentos como os Critérios de Beers (CB), desenvolvidos para auxiliar na prescrição e na revisão da farmacoterapia. O objetivo do presente estudo é verificar a prevalência do uso de MPI, segundo os CB, por idosos atendidos em um Ambulatório de Especialidades Médicas, em 2017, nos serviços de Cardiologia e Endocrinologia. Trata-se de um estudo analítico e transversal. Obteve-se os dados à partir das informações dos prontuários eletrônicos, de pacientes com 60 anos ou mais (n=132). A análise estatística foi realizada mediante o emprego do SPSS versão 25.0. Foram analisadas variáveis sociodemográficas e os medicamentos prescritos foram categorizados pelos CB, em: 1) MPI que devem ser evitados em qualquer condição clínica; 2) MPI que devem ser utilizados com precaução em idosos. A análise das variáveis sociodemográficas evidenciou maior frequência de indivíduos do sexo feminino (53%; n=70), idade média de 70,24 anos (± 7,06), de cor branca (96,2%; n=127) e que vivem sem companheiro(a) (51,5%; n=68). A prevalência de polifarmácia foi de 66,66% (n=88), com mediana de medicamentos/prescrição de 6, com valor mínimo igual a 1 e máximo igual 16 medicamentos. Em relação às categorias dos CB, 63,6% (n=84) dos indivíduos utilizam medicamentos que devem ser evitados em qualquer condição clínica e 79,5% (n=105) utilizam medicamentos que necessitam de precaução, sendo que 53,03% (n=70) utilizam medicamentos listados nas duas categorias. Os medicamentos mais utilizados da primeira categoria foram relacionados ao sistema gastrointestinal (40,27%), sendo o omeprazol o mais prescrito. Os medicamentos mais utilizados da segunda categoria foram os diuréticos (50%), sendo a furosemida o mais prescrito. Os fármacos inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, tem “forte” intensidade de recomendação de serem evitados, e “alta” qualidade de evidência segundo os CB. Seu uso por mais de oito semanas aumenta o risco de infecção por Clostridium difficile, perda óssea e consequente fraturas, além de estar relacionado com o desenvolvimento de demência. Já o uso de diuréticos tem “moderada” intensidade de recomendação de serem evitados e “forte” qualidade de evidência segundo os CB, sugerindo monitoramento bioquímico específico. Maior divulgação da farmacologia clínica do idoso é necessária, além de inovação para otimizar o uso dos instrumentos já existentes, como aplicativos ou a incorporação dos instrumentos nos próprios programas de prontuários eletrônicos dos estabelecimentos de saúde.

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