Os telômeros são um conjunto de pequenas sequências de DNA repetidas em tandem (TTAGGG) e de proteínas associadas que protegem as extremidades dos cromossomos eucarióticos. É reconhecido como um biomarcador do envelhecimento celular, sendo a diminuição do comprimento dos telômeros de leucócitos (CTL) associada com diversos distúrbios sistêmicos: diabetes mellitus tipo 2, doença cardiovascular, obesidade e neoplasias. No entanto, há um número limitado de estudos sobre o efeito de parâmetros antropométricos e bioquímicos no CTL. Posto isso, este estudo visou analisar a relação do CTL com o excesso de peso e características antropométricas e bioquímicas em escolares de Santa Cruz do Sul/RS. Estudo de caráter transversal que contou com a participação de 400 escolares, com idades entre sete e 17 anos, de ambos os sexos. O CTL relativo médio foi medido por qPCR quantitativa utilizando o sistema SYBR™ no aparelho StepOnePlus®. A amplificação das sequências de DNA telomérico (T) e do gene de cópia única hRPLPO (S) foi produzida em triplicata, registrando a média da relação T/S de cada amostra. A obesidade foi avaliada utilizando o índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC) e percentual de gordura (%G). As mensurações bioquímicas de glicose (GLI), colesterol total (CT), HDL-c e triglicerídeos (TG) foram realizadas utilizando kits comerciais Kovalent^TM, e o LDL-c foi calculado pela equação de Friedewald. Foram aferidas as pressões arteriais sistólica e diastólica (PAS e PAD, respectivamente). A análise estatística foi realizada no software IMB® SPSS® (v. 20.0). A normalidade de distribuição foi determinada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S). Foram utilizados os testes ANOVA e Mann-Whitney para comparação de médias e medianas, respectivamente. A relação entre CTL e os parâmetros clínicos, foi avaliada por UNIANOVA, ajustada por sexo, idade e cor/etnia. A amostra foi composta majoritariamente por adolescentes (88,2%) do sexo feminino (59,5%), com mediana de idade de 14 anos (IIQ: 12–15). A prevalência de sobrepeso/obesidade foi de 35,8%, mais elevada em meninos (37,0%) do que em meninas (34,9%). Quanto à relação entre o CTL e as variáveis estudadas, encontrou-se que indivíduos com glicose elevada apresentam CTL menor (0,884±0,424; p=0,030) se comparado aos normoglicêmicos (1,081±0,421). O mesmo foi encontrado para cor/etnia, onde participantes caucasianos tiveram telômeros menores (1,036±0,409) que os não-caucasianos (1,137±0,442; p=0,026). Estratificando a amostra por faixa etária, obtêm-se que no grupo de adolescentes os resultados supracitados se repetem: comprimento dos telômeros menores na glicose elevada (p=0,050) e cor/etnia caucasiana (p=0,026). Já no grupo de crianças, esses resultados não reverberam. Todavia, as crianças com CC elevada apresentam CTL menor (0,829; IIQ: 0,750-0,965; p=0,023) se comparado aquelas com CC normal (1,063; IIQ: 0,954-1,162), o mesmo ocorre para PAS, onde o CTL foi menor (p=0,027) em crianças com PAS elevada (0,485; IIQ: 0,389-0,581) que naquelas com PAS normal (1,016; IIQ: 0,859-1,159). A partir do exposto, observa-se através desse estudo que 35,8% dos escolares apresentam excesso de peso e, além disso, que o encurtamento do CTL está associado a níveis mais elevados de glicose e a cor/etnia caucasiana. Esses resultados se reproduzem apenas em adolescentes, enquanto em crianças, o CTL menor esteve associado à elevação da CC e da PAS.