PERFIL DE MULTIRRESISTÊNCIA DO MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS NAS INSTITUIÇÕES PENAIS DO RIO GRANDE DO SUL
Resumo
Reconhecida como uma doença prioritária no Brasil, a tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa, tendo como seu agente etiológico o Mycobacterium tuberculosis. Sua transmissão ocorre por via aérea, pela inalação dos aerossóis de pessoas com tuberculose ativa. A resistência, por sua vez, tem sido fortemente observada na População Privada de Liberdade (PPL), que possui uma recrudescência proveniente da alta disseminação por conta do ambiente em que vivem, marcado por superlotação, pouca iluminação e ventilação escassa. O tratamento irregular e abandono é frequentemente visto na PPL, e esses dois fatores são os principais quando relacionados ao aumento do risco para desenvolver TB multidroga resistente (TB-MDR). Tendo em vista a complexidade, o presente estudo tem como objetivo descrever e avaliar o perfil multidroga resistente do M. tuberculosis isolado de pacientes da PPL do Rio Grande do Sul (RS), bem como caracterizar seu perfil epidemiológico. Foi realizado um estudo transversal retrospectivo, incluindo dados de pacientes institucionalizados em instituições penais no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2014. Os dados foram coletados da base de dados do Laboratório Central do RS (LACEN) e do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis analisadas no estudo foram: perfil de resistência, HIV, desfecho do tratamento, tipo de entrada no SINAN, tratamento prévio, município de notificação, sexo, média de idade e escolaridade. Foram consideradas MDR-TB as cepas de M. tuberculosis resistentes a isoniazida e rifampicina. Foram realizadas análises descritivas e os resultados expressos e números absolutos e percentuais. Das 273 amostras analisadas, foram identificados 37 como resistentes (13,55%), e entre eles, 15 (40,54%) eram TB-MDR. A idade média dos pacientes foi de 31,27 (±10,68) e houve predominância do sexo masculino, (86,7%). A maioria (53,3%) não tinha o ensino fundamental completo. Entre os casos de TB-MDR, 8 (61,5%) realizaram tratamento prévio e 2 (13,3%) foram identificados como HIV positivo. Em relação a forma de entrada, 5 (33,3%) eram casos novos, 5 (33,3%) reingresso após abandono, 4 (26,7%) recidiva e 1 (6,7%) transferência. No que diz respeito aos desfechos, 2 (13,3%) tiveram alta por cura, 1 (6,7%) abandono de tratamento, 3 (20%) alta por transferência e 1 (6,7) fez mudança de esquema. A maior proporção de cepas TB-MDR era proveniente de pacientes de instituições penais de Porto Alegre (46,7%) e Charqueadas (33,3%). Conclui-se que a incidência de TB-MDR foi maior observada em homens, de idade ativa. Foram identificados na PLL do RS altos índices de casos com histórico de tratamento, o que reflete na grande proporção dos casos TB-MDR, assim como identificou-se baixos índices de cura, que se distanciam do parâmetro de 85% recomendado pelo Ministério da Saúde. No ano de 2016, 2808 (61,1%) dos casos novos do estado do RS se concentravam na região Metropolitana de Porto Alegre, o que coincide com o presente estudo, que identificou uma proporção maior de casos de TB em duas cidades da região – Porto Alegre, com 131 casos e Charqueadas com 37 casos. Para combater o problema de saúde pública que tem sido a TB-MDR, é de extrema importância de que as estratégias para o controle das doenças considerem os fatores associados ao abandono, tratamento prévio e tratamento irregular que estão relacionados com os hábitos encontrados nas instituições penais, bem como a falta de informação sobre a doença.
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