IMPORTÂNCIA DA ODONTOLOGIA NO CONTROLE DE INFECÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Resumo
A inserção da odontologia na equipe multidisciplinar hospitalar é importante, não apenas na intervenção curativa mas principalmente preventivo/educativa. Considerando-se que mais da metade dos microrganismos corporais encontram-se na cavidade oral, sua descontaminação periódica constitui um elemento chave na redução de complicações como pneumonia nosocomial, pneumonia associada a ventilação mecânica, endocardite infecciosa e sepse. No entanto, algumas estratégias simples de prevenção altamente recomendadas, como os cuidados bucais completos são muitas vezes negligenciados durante o período de internação hospitalar. As infecções respiratórias apresentam grande impacto no aumento da morbidade e mortalidade, custos hospitalares, uso prolongado de antimicrobianos, podendo atuar como fator secundário na prorrogação do tempo de internação hospitalar. O estudo teve como objetivo de analisar a proporção de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que permaneceram intubados e relacionar com condições de saúde bucal e ocorrência de infecção. Foi realizado um estudo observacional, transversal e retrospectivo a partir da análise dos prontuários odontológicos preenchidos diariamente por residentes de odontologia, na UTI de um Hospital de Ensino do Sul do Brasil, no período de abril de 2016 a janeiro de 2018. As variáveis de interesse foram sexo, especialidade, período de intubação orotraqueal, ocorrência de infecções e origem (comunitária ou hospitalar), condições de saúde bucal, presença de lesões estomatológicas e desfecho clínico. Foram excluídos os prontuários com informações incompletas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer 2.044. 610. Foram analisados 1.150 prontuários, sendo 59,4% masculinos e 40,7% femininos. A área clínica que mais internou nesse período foi a cardiologia, (35,4%), seguidos pela angiologia (16,2%) e pneumologia (11,2%). Dos pacientes analisados, 36,6% apresentaram algum tipo de infecção, sendo que a infecção hospitalar correspondeu a 7,1%. O sítio de infecção mais prevalente foi o pulmonar, com 173 casos, e destes, 55 apresentaram lesões estomatológicas agudas, 105 pacientes apresentavam condições de saúde bucal ruim ou regular, 140 pacientes foram intubados e a maioria (84) permaneceu até 5 dias intubados. Considerando o desfecho clínico, 57 pacientes que tiveram infecção respiratória evoluíram para óbito. No total, 167 pacientes evoluíram para óbito na UTI e destes 91% permaneceram intubados. A partir da pesquisa pode-se observar que a maioria dos pacientes não apresentam boas condições de saúde bucal e apresentavam condições que dificultavam o acesso para controle mecânico do biofilme. Sendo esse o principal nicho de acúmulo de microrganismos patogênicos, justifica-se então a importância da atuação da odontologia na rotina clínica da UTI, contribuindo para a realização do controle de infecção. Considerando que a maioria dos infecções foram de foco pulmonar, conclui-se que a redução dos focos de infecções bucais podem reduzir a contaminação e as chances de desenvolver pneumonia associada a ventilação mecânica. Ainda nesse sentido, destaca-se a importância da inserção da odontologia na equipe multidisciplinar hospitalar como preventivo/educativa no controle de infecções e outras patologias.
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