AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES E A DINÂMICA TERRITORIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A REGIÃO DO VALE DO RIO PARDO/RS E A REGIÃO DO OESTE CATARINENSE/SC – BRASIL
Resumo
A presente pesquisa analisou o processo de constituição e de funcionamento das agroindústrias familiares, localizadas nas regiões do Vale do Rio Pardo, no estado do Rio Grande do Sul e do Oeste Catarinense, no Estado de Santa Catarina, e suas implicações na dinâmica de organização territorial. A escolha do seguimento agroindústrias familiares e das regiões em pauta, justifica-se por pertencerem, em sua maioria, a regiões com limitantes econômicos e por serem mecanismos de desenvolvimento importantes para a inclusão social em regiões que tiveram similaridade em sua gênese de ocupação e trajetória institucional e econômica. Estudos revelaram os aspectos positivos da forma de estruturação da produção agrícola familiar, a qual ocorre através do sistema associativo, destacando sua capacidade de resposta frente às políticas públicas. Todavia, ao verificar os processos produtivos, os mecanismos de comercialização ou mesmo de industrialização da produção, percebe-se um atrelamento dos agricultores a grandes empresas, vinculadas ao processo da Revolução Verde. Ainda que esse processo tenha, de certa forma, aumentado a produtividade agrícola, colaborou para a redução da capacidade dos agricultores familiares de se organizarem e administrarem sua produção provocando ainda mais a marginalização de suas inciativas. Decorrente desse processo a resistência e construção de alternativas foram estabelecidas em diferentes temporalidades, contudo, com diferentes eficiências. Um desses processos e busca de alternativas está no número crescente de agroindústrias familiares que vem sendo constituídas em todas as regiões do Brasil. Dessa forma, a pesquisa caracteriza-se como uma investigação analítico-explicativa cuja abordagem, formulação e resolução da problemática, bem como a análise e interpretação dos dados coletados alicerçam-se nas contribuições teóricas e metodológicas de Milton Santos. Além disso, optou-se pela investigação do processo de desenvolvimento sob dois ângulos básicos: o desenvolvimento endógeno e o exógeno, sendo a erosão do conhecimento local e substituição por um conhecimento científico global. Através da pesquisa verificou-se que, entre os entrevistados, 60% são do gênero masculino, refletindo a posição do gênero no papel de gestor. As atividades agroindustriais foram aprendidas com os familiares na maioria dos casos, 64,9% dos respondentes do VRP e 50% dos respondentes da AMOSC afirmam que aprenderam o “saber fazer” com os pais e outros familiares ascendentes. A mão de obra é exclusivamente familiar em 59% das agroindústrias familiares do VRP e em 66% das agroindústrias familiares da AMOSC. Quanto à origem da matéria prima empregada, pelo menos 50% da matéria prima é adquirida de terceiros em ambas as regiões. A partir dessas observações conclui-se que nas regiões analisadas as agroindústrias familiares tendem a se adaptar aos novos cenários de integração na produção e na sua organização, preservando as marcas da sua historicidade. Ao contrário das grandes agroindústrias convencionais da região que buscam insumos e matérias primas de terceiros e de outras regiões, as agroindústrias familiares potencializam, na medida do possível, a utilização de insumos e de matérias primas locais e regionais, o que propicia a dinamização socioeconômica e cultural em níveis locais e regionais.
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