SORTILÉGIO - ESTÉTICA E SUBJETIVAÇÃO DO SUJEITO NEGRO EM ABDIAS DO NASCIMENTO

Antonio Lopes Filho, Mozart Linhares da Silva

Resumo


 A pesquisa apresentada se constitui do recorte temático do projeto de pesquisa intitulado “Biopolítica, educação e (des)construção do sujeito negro no Brasil pós-abolição (1888-1945)”, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação (mestrado e doutorado) da Universidade de Santa Cruz do Sul e coordenado pelo professor Dr. Mozart Linhares da Silva. O objetivo geral que norteou o projeto apresentado visa identificar a proposição de uma estética negra forjada a partir da década de 60 com a dramaturgia presente no “Teatro Experimental Negro” (TEN) de Abdias do Nascimento, homem negro, filósofo e um dos principais expoentes culturais e políticos do Movimento Negro. Propõe-se pensar a arte, no caso a dramaturgia do TEN, como um dispositivo implicado nos processos de subjetivação, sobretudo em seus “efeitos” nas estratégias de resistência dos sujeitos negros. Problematiza-se, nesse sentido, o quanto o teatro de Abdias influenciou o desejo e a estética da negritude no Brasil, uma das pautas da militância da época, e em que medida a arte deu conta de servir de lugar de sustentação desses discursos. Para tanto, tomamos como corpus analítico da pesquisa a obra dramatúrgica de Abdias, “Sortilégio – Mistério Negro”, de 1951. Como referencial teórico, articula-se as concepções de arte, estética, resistência e rizoma em Gilles Deleuze e Félix Guattari, compreendendo a formação de um corpus discursivo a partir da perspectiva dos pós-estruturalistas. Utiliza-se também a perspectiva de formação discursiva de Michael Foucault como um conjunto de regras determinadas no tempo e no espaço que possibilitam as condições de exercício da função enunciativa. Com efeito, observou-se que a dramaturgia de Abdias do Nascimento comunica resistência por sua postura política que denota um ideal de ser sujeito negro Brasil, propondo, no decorrer da obra e pelo recurso proporcionado pelas personagens; suas falas; as rubricas do autor; a atmosfera cênica proposta por Nascimento e pelo enredo, uma reivindicação epistemológica que comunica a necessidade do retorno à matriz afro. Esta postura do autor e de sua dramaturgia também conferem uma estética ao movimento, desnaturalizando a ideia de que o formato hoje compreendido como militância seja natural e universal. De tal modo, o que se considera com o recorte da pesquisa para a construção do projeto é a potência da arte quanto resistência, comunicação e agenciamento dos discursos que compõem processos de subjetivação e de identidade.

Apontamentos

  • Não há apontamentos.