O CAMPESINATO NA MODERNIDADE: ASPECTOS MICROSSOCIAIS, CONTINUIDADES E RESISTÊNCIA

Jean Filipe Favaro, Hieda Pagliosa Corona

Resumo


Este artigo tem por objetivo trazer descrições e reflexões a respeito de como o universo intangível inerente aos símbolos, valores e crenças manifestam-se no cotidiano da vida camponesa e preservam-se em suas diferentes esferas no contexto da modernidade. Neste trabalho, o campesinato é apresentado como um grupo sociocultural constituinte de diversas formas de organizar a produção, com modos de vida diferentes entre si, como uma classe social com baixa “classicidade”, pois, é distribuído em distintos padrões de relações sociais. A modernidade não aboliu totalmente a diversidade de práticas e pluralidade de valores expressos no campesinato. Em sociedades camponesas, as categorias de terra, família e trabalho emergem sob um vínculo sedimentado e são comuns à todas elas, cuja organização se concretiza em princípios de honra, hierarquia e reciprocidade. Para uma compreensão mais complexa do universo camponês, deve-se aspirar entender o mundo em suas próprias concepções. A concepção da terra e da natureza não se limitam como objetos de trabalho doméstico e fator de produção, mas como manifestação de uma moralidade e de interpretações sobrenaturais, que é pensada e representada numa conjuntura de valores éticos, como patrimônio familiar, na qual o trabalho é efetuado para construir uma família enquanto valor social. Para o camponês a reciprocidade e solidariedade são a essência da razão de ser e viver. Pela mediação de tais práticas estes indivíduos advogam o direito de ser e de existir, defendendo suas identidades, seus locais e a natureza que os circundam.


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ISSN 2447-4622