Percepções das enchentes de 2024: o caso dos municípios de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Rio Pardo e Sinimbu do estado do Rio Grande do Sul
Resumo
O artigo discute os impactos de desastres naturais enquanto marcos disruptivos com potencial para reconfigurar práticas sociais e institucionais, a partir da análise do caso de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Rio Pardo e Sinimbu (RS), fortemente afetados por enchentes em abril de 2024. Partindo da literatura sobre desastres como oportunidades para mudanças estruturais, destaca-se que reconstruções guiadas por urgência frequentemente aprofundam desigualdades e vulnerabilidades, ao invés de promover resiliência. A experiência de Sinimbu exemplifica essa problemática, revelando a fragilidade das infraestruturas locais frente ao aumento da intensidade dos eventos climáticos, associado às mudanças globais. O comprometimento da Ponte Centenária afetou diretamente a logística, o comércio e o acesso a serviços básicos, gerando impactos econômicos e sociais duradouros. A mobilização comunitária e a atuação da iniciativa privada, sobretudo comerciantes, evidenciam estratégias de resistência e adaptação, embora também revelem lacunas na atuação do poder público. A participação de voluntários em municípios vizinhos, reforça o papel das redes sociais informais diante da ausência de respostas institucionais eficazes. A análise adota abordagem fenomenológica, valorizando os sentidos atribuídos por atores locais à experiência do desastre, e evidencia como eventos extremos desestabilizam práticas cotidianas, abrindo espaço para inovações e reconfigurações sociais. Por fim, o texto propõe a reconstrução como oportunidade para fortalecimento institucional e transformação do território, orientada por diretrizes como o “reconstruir melhor”, que articula desenvolvimento sustentável, prevenção de riscos e justiça social. Assim, defende-se que desastres não sejam compreendidos como eventos isolados, mas como sintomas de desigualdades estruturais que exigem respostas sistêmicas.