A ARQUITETURA HOSTIL COMO UMA ESPACIALIDADE PRODUZIDA E REPRODUTORA DO DESENVOLVIMENTO GEOGRÁFICO DESIGUAL
Resumo
A teoria do desenvolvimento geográfico desigual revela como o capital modifica territórios, concentrando investimentos em áreas valorizadas e marginalizando periferias, em um ciclo alimentado pelo poder econômico que dita a produção do espaço. Nessa lógica, a arquitetura hostil emerge como expressão material do desenvolvimento geográfico desigual, fenômeno intrínseco ao capitalismo que produz e reproduz assimetrias socioespaciais. Analisando de forma exploratória casos no litoral norte gaúcho, especificamente nos municípios de Capão da Canoa e Xangri-lá, demonstra-se como estes elementos hostis – bancos com divisórias, arbustos sob marquises e muros extensos – produzem a segregação socioespacial no espaço urbano destas cidades, excluindo populações consideradas “indesejáveis” e priorizando interesses do capital. Essas práticas, associadas à perversidade da globalização, refletem a hegemonia do capital financeiro, que transforma o espaço urbano em mercadoria, priorizando o consumo em detrimento do uso e ocupação democrática da cidade. Contudo, recentemente a insurgência de resistências – como a Lei Padre Júlio Lancelloti e movimentos sociais no litoral norte gaúcho – demonstram uma possibilidade de pensar uma outra globalização, uma outra produção do espaço urbano. Dessa forma, a superação do desenvolvimento geográfico desigual exige práticas que transcendam os limites do capitalismo e pautem a utopia como uma ferramenta para a apropriação cidadã do espaço.