AS TRANSFORMAÇÕES NO DISPOSITIVO DA TRANSEXUALIDADE A PARTIR DA LUTA PELA DESPATOLOGIZAÇÃO

Gabriela Felten da Maia, Gabriela Pires

Resumo


A transexualidade enquanto categoria nosológica compõe um dispositivo que constituiu as condições de possibilidade das intervenções biomédicas com o intuito de conformar trânsitos de gênero a um modelo que tem sido considerado a verdade sobre corpos trans. Indicador dos processos históricos e políticos que ocorreram no século XX sobre os trânsitos de gênero, esse dispositivo constituiu um conjunto de saber e práticas que legitimou essa categoria como um fenômeno patológico, um deslocamento de uma pretensa ordem natural. Contudo, o estatuto de verdade do discurso médico-jurídico sobre a transexualidade vem sendo questionado, produzindo mudanças que culminaram com a revisão de dois manuais diagnósticos importantes da área médica, o DSM e o CID, em que a experiência trans passa a ser entendida não mais como uma categoria presente nos transtornos mentais e sim como condição de saúde sexual e o sofrimento efeito das discriminações. Esse processo pode ser compreendido com uma transformação no dispositivo da transexualidade e, por isso, esse trabalho pretende refletir sobre essa mudança em curso, em que se observa um deslocamento do discurso médico-psiquiátrico para o sócio-jurídico, pautado nos direitos humanos. Assim, procuramos analisar o modo tem se estruturado esse debate para seguir a hipótese de que as estratégias de luta pela transformação dos discursos e saberes sobre as identidades trans constituem um campo estratégico do poder que conforma e reatualiza esse dispositivo.


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