Riscos na Atenção Psicossocial: a quase inexistência do discurso ‘Direitos Sociais’ em saúde mental

Autores

  • Daniel Dall'Igna Ecker Psicólogo Clínico (CRP-12/18496) no Distrito Sanitário Norte, equipe Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis - SMS/ESP/UDESC, Florianópolis, SC, Brasil http://orcid.org/0000-0001-5522-2231

DOI:

https://doi.org/10.17058/psiunisc.v6i1.16414

Palavras-chave:

Direitos Sociais, Atenção psicossocial, Discursos, Saúde mental

Resumo

Este artigo tem como proposta problematizar a quase inexistência do discurso ‘Direitos Sociais’ no cotidiano em saúde mental da Atenção Psicossocial brasileira. Subsidiado por pesquisa de doutorado, qualitativa, de epistemologia e método inspirado no pós-estruturalismo, analisou 346 registros de experiências — 28 casos clínicos, 19 narrativas, 118 imagens, 50 documentos institucionais, 120 registros em diário de campo, 14 relatos, entre outros, sendo o presente artigo um capítulo dos resultados da tese. Através dos resultados, propõe três pontos de discussão, pensando na forma como os sujeitos produzem e conduzem a si na vida, e nos processos terapêuticos, enquanto seres subjetivos, a partir do discurso dos direitos: 1) incidência nas vidas; 2) nas terapêuticas; e, por fim, 3) através dos discursos institucionais. Por meio dos materiais infere que a nebulosidade discursiva em torno dos direitos, ao não estabelecer uma relação em língua escrita ou oral direta entre os serviços acessados, disponíveis ou não disponíveis, como contextos em que se situam o exercício dos Direitos Sociais em ato, coloca em risco a Atenção Psicossocial ao individualizar condições de vulnerabilidade social às quais muitos dos usuários e usuárias estão expostos na vida cotidiana brasileira. Com isso, propõe pensar os riscos que a inexistência do discurso dos Direitos Sociais possibilita, ao afetar no fortalecimento e preservação de um cuidado e assistência em saúde mental, baseado na perspectiva de uma saúde humana integral, biopsicossocial.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daniel Dall'Igna Ecker, Psicólogo Clínico (CRP-12/18496) no Distrito Sanitário Norte, equipe Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis - SMS/ESP/UDESC, Florianópolis, SC, Brasil

Psicólogo Clínico (CRP-12/18496) no Distrito Sanitário Norte, equipe Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis - SMS/ESP/UDESC. Graduado em Psicologia (PUCRS/2013). Mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS/2016) com período sanduíche no Grupo de Pesquisa Processos Culturais, Políticas e Modos de Subjetivação na Universidade Federal de Alagoas (UFAL/2015). Doutor em Psicologia Social e Institucional (UFRGS/2020) com período sanduíche no LAPCIP - Laboratório de Psicanálise, Processos Criativos e Interações Políticas - na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/2018-2019). Na graduação teve experiência como bolsista do Programa de Educação Tutorial - PET/MEC/SESu (2006-2010), Iniciação Científica (bolsa institucional) na UniRitter de Porto Alegre (2010) e Iniciação Científica (CNPq) no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional na UFRGS (2011-2013). Filiado à ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social (2012-2013) trabalhou na Secretaria Administrativa, junto à Direção Nacional (2012-2014). Editor-Executivo na Revista Eletrônica Científica da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (REV-UERGS), área Ciências Humanas, de 2017 a 2020. Tem experiências em Psicologia, Psicologia Social e Institucional, Psicologia Clínica e no trabalho em instituições de representação da categoria profissional. Dentre os principais temas de pesquisa em Psicologia, estão: Direitos Sociais, políticas públicas, produção de subjetividade, clínica em Psicologia, saúde mental, atenção psicossocial, atenção básica, atenção primária à saúde, Acompanhamento Terapêutico, Gestão Autônoma da Medicação (Guia-GAM), uso de drogas, Redução de Danos e Michel Foucault

Referências

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (1988). DF: Brasília. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm

Ecker, D. D. (2018). Direitos Sociais e Acompanhamento Terapêutico: problematizações através de desenhos. Aurora: revista de arte, mídia e política, 11(32), 95-109. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/ar ticle/view/31984

Ecker, D. D. (2020). O exercício de Direitos Sociais nos processos subjetivos e terapêuticos: políticas públicas, saúde mental e atenção psicossocial (Tese de Doutorado). Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil. Recuperado de http://hdl.handle.net/10183/213918

Ecker, D. D., & Palombini, A. L. (2020). A complexidade dos direitos sociais na clínica em psicologia: Fatores materiais, singulares e multidimensionais. Pensando Psicología, 16(2), 1-28. Recuperado de https://revistas.ucc.edu.co/index.php/pe/arti cle/view/3938

Ecker, D. D., & Palombini, A. L. (2021). Acompanhamento Terapêutico e Direitos Sociais: Territórios existenciais e sujeito biopsico-político-social. Psicologia Clínica, 33(2), 357-378. doi: 10.33208/PC19805438v0033n02A08

Falkembach, E. M. F. (1987). Diário de campo: um instrumento de reflexão. Contexto e educação, 2(7), 19-24. Recuperdo de http://www.unirio.br/cchs/ess/Members/silv ana.marinho/disciplina-instrumentos-etecnicas-de-intervencao/unid-2instrumentos-de-conhecimentointervencao-e-registro/texto-7-falkembachelza-maria-fonseca-diario-de-campo-uminstrumento-de-reflexao-in-contexto-eeducacao-no-7-jui-inijui-1987

Filizola, C. L. A., Ribeiro, M. C., & Pavarini S. C. I. (2003). A história da família de Rubi e seu filho Leão: trabalhando com famílias de usuários com transtorno mental grave através do modelo Calgary de avaliação e de intervenção na família. Texto e Contexto Enfermagem,12(2), 182-190. Recuperado de https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource /pt/lil-460563

Foucault, M. (2010). A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes.

Hullen, A. C. N. (2018). Cidadania e direitos sociais no Brasil: um longo percurso para o acesso aos direitos fundamentais. Revista da Secretaria do Tribunal Permanente de Revisão, 6(11), 213-227. doi: 10.16890/rstpr.a6.n11.p213

Hüning, S. M., & Guareschi, N. M. F. (2009). Efeito Foucault: desacomodar a psicologia. In N. M. F. Guareschi, & S. Hüning (Orgs.), Michel Foucault e a Psicologia (pp. 159-182). Porto Alegre: Edipucrs.

Hüning, S. M., & Scisleski, A. C. C. (2018). Ressonâncias de uma epistemologia foucaultiana em psicologia social. Psicologia & Sociedade, 30, e170632. doi: 10.1590/18 07-0310/2018v30170632

Ibanhes, L. C. (2010). A constitucionalização dos direitos sociais no Brasil: difusos e coletivos ou confusos e seletivos? BIS. Boletim do Instituto de Saúde (Impresso), 12(3), 213-219. Recuperado de http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?sc ript=sci_arttext&pid=S1518-181220 10000300002&lng=pt&tlng=pt

Lavinas L. (2016). How social developmentalism reframed social policy in Brazil. Berlin: International Research Network on Interdependent Inequalities in Latin America. (Working Paper Series, 94).

Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. (1990). Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: Planalto, 1962. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L 80 80.htm

Lei nº10.216, de 6 de abril de 2001. (06 de abril de 2001). Ministério da Saúde. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, seção 1. Brasília: DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/le is_2001/l10216.htm

Lo Vuolo RM. (2016). The limits of redistributive policies in Latin America: complementarities between economic and social protection systems. In B. Fritz, L. Lavinas (eds), A moment of equality for Latin America: Challenges for redistribution. New York: Routledge.

Mello, D. F., Viera, C. S., Simpionato, E., Biasoli-Alves, Z. M. M. & Nascimento, L. C. (2005). Genograma e ecomapa: possibilidades de utilização na estratégia de saúde da família. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 15(1), 78-88. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbcdh/v15n1/09.pdf

Merhy, E. E. (2002). Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec.

Minayo, M. C. S. (2007). O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde (10ª Ed.). São Paulo: HUCITEC.

Noto, C. S. (2009). A ontologia do sujeito em Michel Foucault (Dissertação de Mestrado). Departamento de Filosofia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.

Palombini, A. L., Pasini, V. L., Ecker, D. D., Castro, I. D., Silveira, J. S., Schreiner, L., Guerra, S. Z. (2019). Acompanhamento terapêutico: uma clínica em rede. sustento da vida entre precariedades e riscos. In R. O. Campos... [et al.]. (Org.). SaúdeLoucura 10 (pp. 1-15, v. 1, 1ªed.). São Paulo SP: Editora

Hucitec. Rocha, L. P. & Palombini, A. L. (2017). A clínica do Acompanhamento Terapêutico como pesquisa psicanalítica: uma escrita compartilhada entre vários. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 20(3), 732-742. doi: 10.1590/1809-44142017003012

Santos, W. G. (1979). Cidadania e justiça: a política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro: Campus

Terra, E. (2014). Dicionário da língua portuguesa Ernani Terra (2ª Ed.). São Paulo: Rideel.

Viana, A. L. d’A, Fonseca, A. M. M, & Silva, H. P. (2017). Proteção social na América Latina e Caribe: mudanças, contradições e limites. Cadernos de Saúde Pública, 33(Suppl. 2), e00216516. doi: 10.1590/0102-311x00216516

Downloads

Publicado

2022-12-05

Como Citar

Ecker, D. D. (2022). Riscos na Atenção Psicossocial: a quase inexistência do discurso ‘Direitos Sociais’ em saúde mental. PSI UNISC, 6(1), 82-97. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v6i1.16414

Edição

Seção

Artigos