´´Na hora de abrir as pernas não pensou´´: HIV, mulheres e vivências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17058/psiunisc.v8i2.18527

Palavras-chave:

HIV, Imagem corporal, Iniquidade de gênero, Psicologia, Sexualidade

Resumo

Este trabalho objetiva compreender os significados atribuídos pelas mulheres que vivem com HIV, acerca das concepções de gênero, sexualidade e corpo, nas suas experiências após o diagnóstico. Para isso, foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas, com três mulheres, que vivem com HIV. Os resultados mostraram que as mulheres interlocutoras deste estudo vivenciaram situações de violações aos seus direitos, assim como de constrangimento e misoginia devido ao diagnóstico, seja nos serviços de saúde, seja na rede de relações afetivas. Ressalta-se que a vigilância à sexualidade e ao corpo das mulheres, somada à carga moral que o HIV carrega, são fatores que acarretam maior vulnerabilidade às situações de preconceito. Percebeu-se que o tempo de vivência e o ano de descoberta do HIV são marcadores importantes para entender a singularidade da experiência de cada mulher. A importância de se trabalhar as questões de gênero em práticas preventivas se mostrou necessária diante das concepções ainda presentes de que o casamento e as relações afetivo-sexuais fixas são fatores de proteção ao HIV. Almeja-se que as práticas de interação com as mulheres que vivem com HIV não reproduzam a lógica de preconceito e discriminação, e que o conhecimento possa desconstruir concepções que favoreçam a iniquidade de gênero. Ademais, espera-se que as mulheres que vivem com HIV encontrem na sociedade um espaço de inserção social, e que as condutas de cuidado para com elas sejam permeadas pelo acolhimento respeitoso e sensível, com a presença de vínculo, amparo e confiança, buscando tornar tal experiência a menos dolorosa possível.

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Biografia do Autor

Caroline Felli Kubiça, Universidade Franciscana (UFN), Santa Maria - RS/Brasil

Servidora Pública, Brasil Psicóloga, formada pela Universidade Franciscana (UFN). Especialista em Sistema Público de Saúde/ Saúde da Família, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Especialista em Psicologia Hospitalar (Instituto Líbano/Celso Lisboa). Servidora pública na Prefeitura de Faxinal do Soturno/Rio Grande do Sul. Farroupilha, CEP: 90010-150, Porto Alegre, RS – Brasil.

Monise Gomes Serpa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre – RS/Brasil

Psicóloga e licenciada em Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutora em Educação pela UFRGS e graduanda em Licenciatura em Dança pela UFRGS. É Professora da Faculdade de Educação da UFRGS. Participa do núcleo de Pesquisa GEERGE-Grupo de Estudo em Educação e Sexualidade, da Pós-graduação na FACED, UFRGS, tendo como foco de pesquisa os temas: corpo, desigualdades de gênero, Direitos Humanos, exploração sexual e erotização precoce.

Camila dos Santos Gonçalves , Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Bagé - RS/Brasil

Psicóloga, Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Integrante do grupo de pesquisa VIDAS - Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Psicologia Clínica - Social(PPGP/UFSM). Áreas de Interesse: Atenção Psicossocial, Políticas de Equidade, Direitos Humanos, Saúde Sexual, Políticas Públicas de Saúde, HIV/Aids, Educação em Saúde.

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Publicado

2024-08-31

Como Citar

Kubiça, C. F. ., Serpa, M. G. ., & Gonçalves , C. dos S. (2024). ´´Na hora de abrir as pernas não pensou´´: HIV, mulheres e vivências . PSI UNISC, 8(2), 331-348. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v8i2.18527