“A minha fé é na ciência”: um estudo ecocognitivo das metáforas de ciência em um discurso negacionista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17058/signo.v48i91.17885

Palavras-chave:

Metáforas de Ciência, Ecocognição e Linguagem, Jogos de Linguagem, Discurso Negacionista, Terraplanismo

Resumo

Neste artigo, propomos caracterizar as metáforas empregadas por um dos mais influentes divulgadores do movimento terraplanista no Brasil, o investidor Jota Marthins, na construção de sentido de CIÊNCIA. Para tanto, à luz da abordagem ecocognitiva, examinamos uma entrevista audiovisual concedida pelo líder terraplanista ao canal do Youtube QUEM SOMOS NÓS (2020). Abordamos tal interação linguística como um jogo de linguagem em que indivíduos linguísticos, por meio de recursos cognitivo-ecológicos, constroem e (re)modelam conceitos (frames) de CIÊNCIA. Nessa perspectiva, um dos mecanismos básicos de construção de sentido se trata da emulação conceptual (cf. RODRIGUES et al, 2020; DUQUE, no prelo), que se realiza em uma dimensão online, como metáforas situadas (VEREZA, 2013b), e em uma dimensão offline, como metáforas conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980). Apresentamos, então, um exame parcialmente multimodal de ambos os tipos de realização, cujos resultados apontam para um vasto uso de metáforas situadas de CIÊNCIA e um padrão emulativo particular de metáforas situadas de CIÊNCIA MODERNA, que nos possibilitaram identificar a metáfora conceptual CIÊNCIA MODERNA É UM SER HUMANO. Discutimos, ainda, o possível valor argumentativo no emprego dessas metáforas.

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Biografia do Autor

Paulo Henrique Duque, UFRN

Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutor e mestre em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); graduado em Letras – Português/Inglês e Literaturas pelo Centro de Ensino Superior de Valença.

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Publicado

2023-02-27

Como Citar

Pires Rodrigues, M. V., & Duque, P. H. (2023). “A minha fé é na ciência”: um estudo ecocognitivo das metáforas de ciência em um discurso negacionista. Signo, 48(91), 69-82. https://doi.org/10.17058/signo.v48i91.17885

Edição

Seção

Metáfora na ciência: entre cognição e discurso