A CONVIVÊNCIA ENQUANTO MÉTODO DE PESQUISA: PISTAS SOBRE A REALIDADE DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ATRAVÉS DA ESQUIZOANÁLISE

Maria Luiza Adoryan Machado, Gabriela Felten da Maia

Resumo


O presente ensaio tem como objetivo central a contextualização de algumas das especificidades no modo de ser e estar de estar de pessoas que vivem em situação de rua na cidade de Santa Cruz do Sul (RS). Para tanto, foi utilizada a perspectiva da esquizoanálise enquanto potencialidade de pesquisa, e a partir das intervenções realizadas nas ruas do município e em um serviço público específico - que, atualmente, é referência que dispõe de cama, alimentação e banho para pessoas desabrigadas - foi identificado que o fenômeno "convivência"se configura como um elemento fundamental e integrador no que se refere aos dados encontrados que compõem algumas pistas sobre os modos de ser/estar/viver na realidade de rua. Conforme Rocha e Aguiar (2004, p. 65) a pesquisa-intervenção está centrada no agir, através de uma metodologia exploratória, tendo seus objetivos definidos no próprio campo de atuação. Para Peres et al (2000, p. 35) a esquizoanálise (análise de partes, pedaços, linhas ou estilhaços) poderia ser entendida como uma ética estética de valorização da vida; seria uma perspectiva e não uma metodologia. Sendo assim, a partir de diversas situações de trocas e construção de novos olhares e saberes sobre as especificidades que emergem desta realidade que é ocultada diariamente. O fenômeno convivência citado no presente ensaio emerge de um trabalho que vem sendo realizado no município desde 2014, nomeado "Coletivo RUAS (Resistências Urbanas = Aprendizados Subversivos)", em que estudantes, professores/as, pessoas em situação de rua e comunidade em geral promovem encontros e ações para pensar a realidade de rua para além dos estereótipos. De uma forma geral, através das pistas apresentadas neste ensaio que caracterizam um pouco da imensidão de especificidades que é estar/viver em situação de rua, é possível identificar que os processos grupais no contexto em estudo configuram-se de forma espontânea e assimétrica, de acordo com as especificidades e modos de subjetivação de cada sujeito que passa a estar/viver na realidade de rua, independente da causa por estar nesta condição. As relações vão se estabelecendo de acordo com a convivência, com as necessidades e imprevistos que surgem, mediante estratégias criadas pelos próprios sujeitos. Com este ensaio e demais produções que vêm sendo realizadas pelo Coletivo RUAS também foi possível identificar uma lacuna sobre o assunto em estudo no município em questão, desde a falta de estudos que promovam discussões sobre as especificidades encontradas neste contexto e das estratégias higienistas adotadas por profissionais que atuam diretamente com esta população.

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