SOBRE CAMPOS MINADOS: SEXUALIDADE, GÊNERO, SAÚDE E EDUCAÇÃO

Letícia Aline Back, Betina Hillesheim

Resumo


Este trabalho objetiva apresentar um recorte dos resultados produzidos na pesquisa Gênero, Sexualidade e Diversidade sexual: desafios e possibilidades para as políticas públicas de educação, pautada na análise do Caderno de Orientação Sexual dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a partir de disparadores conceituais, sendo eles: gênero, sexualidade e heteronormatividade. Para a apresentação desta análise, usam-se palavras-conceitos tais como, gênero e sexualidade e educação e saúde, articuladas com a imagem-movimento do jogo Campo Minado, tradicionalmente instalado em computadores Windows, que consiste, basicamente, em revelar um campo de minas sem que as mesmas sejam detonadas. O jogo apresenta como possibilidade a marcação, mediante o uso de pequenas bandeiras, de um terreno seguro. Nesta análise, compreendemos a sexualidade numa perspectiva foucaultiana, ou seja, enquanto um dispositivo que estabelece uma relação intrínseca com o poder, produzindo efeitos sobre os corpos individuais, tanto quanto sobre a população, na medida em que a sexualidade se constitui como via de entrada para estas duas condições (cf. FOUCAULT, 1985). Diante disso, apontamos para o quanto que a educação e a saúde se articulam fortemente a partir das questões da sexualidade. A analogia realizada, a partir da imagem do Campo Minado, associa os conceitos gênero e sexualidade as ‘bombas’; educação e saúde as ‘bandeiras’. Os discursos destes dois campos de saberes, criam as condições de possibilidade para o controle, mapeamento e produção de um território seguro. Considerando estes aspectos, sinaliza-se como a sexualidade aparece atrelada a duas concepções centrais: Risco e Prevenção, relacionando-se a necessidade de uma gestão dos riscos, materializando a tentativa de previsibilidade dos acontecimentos, legitimando o aprimoramento dos cálculos estatísticos com relação ao risco (SPINK, 2001). A partir destes, pauta as ações e estratégias de modo a evitar que temas como sexualidade e gênero saiam dos contornos tidos como esperados, e controláveis. Deste modo, evidencia-se que as discussões realizadas no mesmo ainda se restringem a concepções calcadas em discursos da saúde, por aspectos fortemente biologicistas. Com isso, reforça-se a necessidade de espaços políticos e acadêmicos que permitam a produção de visibilidades para as temáticas concernentes ao espaço da diferença nos campos de gênero e sexualidade, possibilitando outros modos de inserção nos currículos escolares, para além de condutas normalizantes.

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