O PAPEL EDUCACIONAL E A COMPLEXIDADE DO TRABALHO REALIZADO PELAS MULHERES NA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DE SANTA CRUZ DO SUL

Bruna Caroline Borges, Cheron Zanini Moretti

Resumo


Este estudo apresenta um recorte do projeto de (Des)colonialidade do ser/poder/saber na Pedagogia da Alternância: Sistematização de uma experiência e tem como objetivo a compreensão da complexidade do trabalho realizado por mulheres camponesas e seu papel educacional no processo de alternância entre o tempo-escola e tempo-propriedade familiar na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC). Trata-se de uma pesquisa qualitativa que coloca em relevo a participação das mulheres na Pedagogia da Alternância. Como fontes para essa pesquisa, analisamos as entrevistas com uma estudante da EFASC, duas agricultoras familiares, mãe e avós de estudantes da EFASC, além da esposa de um monitor da escola - realizadas no contexto de uma tese de doutoramento vinculado ao referido projeto. Entende-se que existe uma relação de do-discência na experiência pedagógica da EFASC, conforme identificamos em pesquisas anteriores. Como orientação teórico-epistemológica, tomamos o princípio da educação popular e da educação do campo como fundamentos, compreendendo melhor o processo pedagógico da escola e a importância do conhecimento e do trabalho desempenhado pelas agricultoras para garantir que a alternância aconteça. A análise possibilitou a compreensão de que durante a troca e a construção de saberes dentro das propriedades rurais, os conhecimentos transmitidos para os jovens e para as jovens são diferenciados conforme os papéis sociais esperados para o conjunto de educandos/as na pedagogia dominante. Os conhecimentos das mulheres camponesas geralmente se dão dentro dos trabalhos domésticos e de cuidados, que estão relacionados com a (re)produção da vida. As mulheres desempenham atividades nas lavouras e na produção de alimentos, como o plantio e colheita para o consumo da família e, em alguns casos, para a venda na comunidade. Também realizam a ordenha de vacas, cuidados com os animais, produção de pães e artesanatos. Essas atividades desenvolvidas pelas mulheres agricultoras, muitas vezes, não são reconhecidas como parte produtiva, mesmo quando desenvolvem atividades que geralmente são designadas como ?masculinas?, o trabalho dessas mulheres é visto como ?ajuda?, uma atividade complementar às consideradas imprescindíveis ou principais. Pode-se observar, com a análise das entrevistas, que a consciência sobre o papel desempenhado pelas mulheres no campo acontece de forma diferente entre as entrevistadas. Enquanto algumas ainda não enxergam suas atividades como trabalho, e, sim, como ajuda, outras reconhecem que seus conhecimentos não se limitam aos trabalhos domésticos e são parte fundamental dentro da propriedade. O papel educacional que essas mulheres exercem dentro da alternância, dá-se na construção dos saberes populares e de conhecimentos científicos, no momento em que o/a estudante retorna para a propriedade para pesquisar sobre a produção e preparação de alimentos, sobre conhecimentos medicinais como chás e óleos, sobre as benzeduras. Além de todos os conhecimentos que envolvem os cuidados, as mulheres são as responsáveis por transmitir esses conhecimentos para as novas gerações. Ainda, foi possível observar que as educandas tendem a ter um olhar diferenciado em relação aos educandos, para questões de relevo e solo na hora do plantio e de melhor utilização da terra. E, é nesse momento que acontece a troca de saberes populares com os conhecimentos técnicos que aprendem na escola. As mulheres cumprem um papel particular nesse processo pedagógico.

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ISSN 2764-2135