LINGUAGEM, INTERCORPORALIDADE E MUNDO: EXPERIÊNCIA POÉTICA E DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Carine Josiéle Wendland, Sandra Regina Simonis Richter

Resumo


Apresento, como um dos resultados da participação voluntária no projeto de pesquisa Experiência poética e docência na Educação Básica, em 2019, uma síntese de minha ação no projeto Arte e Vida: semeando paz. O projeto decorreu de uma atividade de extensão promovida pelos grupos de pesquisa Peabiru: educação ameríndia e interculturalidade e Estudos Poéticos: Educação e Linguagem, ambos vinculados à linha de pesquisa Aprendizagem, tecnologias e linguagens na educação do Programa de Pós-graduação em Educação da UNISC. O projeto foi desencadeado a partir do diálogo com a Escola Estadual de Ensino Fundamental José Wilke com o objetivo de aproximar um grupo voluntário de estudantes do 6º ao 9º ano tanto dos povos e narrativas originários quanto de experiências poéticas no ateliê do Memorial da UNISC. Os encontros foram orientados pelo estudo dos sentidos e significados da experiência vital de linguagem na docência da Educação Básica como modo de investigar a problemática filosófica dada pela relação entre linguagem, intercorporalidade e mundo. O projeto foi dividido em quatro encontros semanais, nos quais os alunos se aproximaram do mito de surgimento da cultura Guarani, bem como da mitologia Kaingang, suas dualidades Kamé e Kairu e sua complementariedade como modos de ser e fazer educação. Junto às narrativas ancestrais dos Guarani e Kaingang foram oferecidas experiências com pintura, desenho, biodança e modelagem de argila, a fim de proporcionar uma sensibilização à cultura indígena. A ação entre Universidade e Educação Básica reuniu ensino, pesquisa e extensão em torno do tema da paz a partir da apresentação aos estudantes do Ensino Fundamental de culturas outras das quais não estão habituados a com-viver. Minha contribuição, como bolsista, foi organizar os instrumentos e os materiais do ateliê para os encontros, acompanhar as pesquisadoras nas ações com os estudantes e registrar os encontros. A experiência de participar do projeto, de acompanhar a admiração e a atenção dos estudantes nos encontros interculturais no ateliê permitiu compreender que o que coletivamente nos une é a presença em linguagem, a qual nos aproxima de quem é outro, promove abertura ao diálogo e nos sensibiliza para a pluralidade da vida. Os estudos nos grupos de pesquisa, em especial das concepções de educação intercultural e da abordagem da dimensão poética da linguagem, desde a interlocução com as reflexões de Valéry, Larrosa, Pohlman, Richter e Berle, permitiram a aproximação à abordagem filosófica na pesquisa educacional, na qual a dimensão poética da linguagem perpassa ? e ultrapassa ? a teoria e a prática ao entremear-se na alteridade das interações para produzir sentido àquilo que vivenciamos e, efetivamente, experimentamos como convivência no mundo comum. A com-vivência no ateliê foi produtora tanto de sentidos quanto de interrogações em relação à ação de educar, pois se permitiu aproximar distintos modos de pensar e de produzir sentidos ao potencial educativo de oferecer experiências poéticas, também permitiu interrogar a desconsideração escolar por tais experiências. Assim, os encontros nos grupos de pesquisa, com os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, a participação na organização das ações do projeto e das propostas poéticas nos ateliês, na simultaneidade da realização de um percurso de leitura e escrita acadêmicas, acarretou mais inquietações que respostas. Porém, sem interrogações não é possível assumir a complexidade da formação científica.

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ISSN 2764-2135