AGRAVOS À SAÚDE DE TRABALHADORES COM DEFICIÊNCIA EM ÁREA RURAL

Maria Carolina Magedanz, Ana Gabriela Sausen, Guilherme Mocelin, Lucas Fischer, Luciane Maria Schmidt Alves, Leni Dias Weigelt, Edna Garcia Linhares, Suzane Beatriz Frantz Krug

Resumo


Introdução: No trabalho na agricultura, o Rio Grande do Sul utiliza duas vezes mais agrotóxicos que a média nacional, o que coloca os agricultores em exposições diretas e constantes. Essa situação pode desencadear agravos à saúde, considerando também aspectos organizacionais, sociais e subjetivos relacionados à saúde dos trabalhadores rurais. Acrescido a isso, o trabalhador com deficiência em cenário rural não tem, na maioria dos casos, suas especificidades contempladas, já que se reproduzem ações do espaço de trabalho urbano e do trabalhador sem deficiência. Objetivo: conhecer e analisar os agravos à saúde gerados pelo trabalho das pessoas com deficiência (PcDs) em áreas rurais. Método: estudo qualitativo, tipo estudo de caso, recorte da pesquisa em andamento ?Trabalho, Inclusão e Agravos à Saúde de Pessoas com Deficiência em Cenário Rural: uma análise na região sul do Brasil?, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul. Desenvolvida em cinco municípios da região central do Rio Grande do Sul, com população rural maior que 70% e que tem no cultivo do tabaco a sua maior prática econômica, apresentando registro de 30 acidentes de trabalho em 2010, e 14 casos em 2012. Realizou-se entrevistas com cinco PcDs, maiores de 18 anos, com experiência laboral prévia ou atual. Desses, dois sujeitos, identificados com nomes fictícios, referiram agravos à saúde gerados pelo trabalho, constituindo, então, a amostra do presente estudo. Para a análise dos dados utilizou-se Análise de Conteúdo. Pesquisa aprovada pelo CEP-UNISC sob protocolo nº 341658. Resultados: João, sexo masculino, autodeclarado branco, 37 anos, ensino médio incompleto, deficiência intelectual congênita, atuou como trabalhador agrícola informal por 15 dias, em jornada de 15 horas por dia, renda de menos de um salário mínimo e atualmente não exerce atividade laboral. Pedro, sexo masculino, autodeclarado branco, 61 anos, ensino fundamental incompleto, deficiência física adquirida, proprietário de terra, trabalha 30 horas semanais há mais de 15 anos, renda entre um e três salários mínimos. Ambos desenvolveram ou desenvolvem atividades ocupacionais na agricultura, recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e sofreram intoxicação aguda por agrotóxicos durante o trabalho. Apontaram a etapa da colheita dos produtos agrícolas como a situação da exposição e intoxicação, apresentaram sintomas gastrintestinais e cutâneos e tiveram a cura da intoxicação como evolução do caso. Pedro refere utilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) e João trabalhou sem a utilização de EPI. Somente João relatou procurar atendimento de saúde após a intoxicação, além de afastar-se do trabalho, por iniciativa própria e sem o registro formal do caso, devido ao receio de perder o BPC. Considerações Finais: aponta-se a intoxicação aguda por agrotóxicos como o agravo à saúde desses trabalhadores com deficiência da área rural. Os resultados indicam a invisibilidade dos acidentes de trabalho também entre os trabalhadores com deficiência na área rural, considerando a não busca por atendimento médico e registro do afastamento do trabalho em um dos casos, o que evidencia também a informalidade do trabalho. O afastamento do trabalho devido à possibilidade de perda do BPC, demonstra a dura realidade social e econômica cotidiana dos trabalhadores com deficiência.

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ISSN 2764-2135