DESEMPENHO ESCOLAR E VULNERABILIDADE AO USO DE SUBSTÂNCIAS: ARTICULAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
Resumo
As primeiras experiências com o uso de drogas acontecem durante a adolescência. De acordo com pesquisas nacionais, mais da metade dos jovens, em idade estudantil, já consumiram álcool na vida, cerca de um quarto usou alguma substância ilícita e menos de um quinto havia experimentado tabaco. Devido à escola abranger essa faixa etária quase que por completo, relações entre a drogadição e rendimento escolar podem ser verificadas. Essa associação pode ser evidenciada nos resultados parciais da pesquisa ?Narrativas de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde CAPSia e CAPSad: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul?, que busca compreender os sentidos produzidos por adolescentes sobre o fenômeno da droga e da drogadição, pelo viés da pesquisa-intervenção. As escolas participantes são indicadas pelo Programa de Saúde na Escola (PSE). Utiliza-se do espaço escolar para promover a escuta e a construção do conhecimento junto aos alunos, por meio da promoção de grupos focais, com frequência semanal durante três semanas. Além disso, entendimentos sobre como a droga se manifesta na realidade do local se dão por meio de entrevistas semiestruturadas com a equipe diretiva da escola e com profissional responsável pelo PSE da Estratégia de Saúde da Família (ESF) de referência da escola. A análise de resultados é feita por meio da perspectiva de Spink, com análise das práticas discursivas. As profissionais da educação entrevistadas expressam perceber uma ligação entre a indisciplina em sala de aula e a vulnerabilidade ao uso de drogas, ao mesmo tempo demonstram uma preocupação com seus alunos, buscando melhorar tais situações, o que evidencia a importância de ações em saúde no espaço escolar. No Brasil, seguidamente o consumo de drogas está associado a repetência escolar, descomprometimento com atividades, falta de vinculação com o ambiente escolar, baixo rendimento e evasão. Tais constatações provém de pesquisas com o enfoque na autopercepção de usuários de drogas, tanto adultos quanto adolescentes, e também em dados de órgãos de saúde. A problemática pode ser encarada do ponto de vista social, quando o jovem marginalizado assume comportamentos de risco, presentes no seu contexto social, e do neurológico, em que o uso de substâncias durante o desenvolvimento acarreta déficits nas funções executivas, dificultando a dinâmica das atividades pedagógicas. Sendo assim, o uso problemático de drogas pode ser causa de dificuldades no desempenho escolar, ou se configurar como uma consequência do baixo rendimento na escola. Importante ressaltar que a experimentação por conta própria e aquisição de novas experiências é inerente à adolescência. O sucesso escolar do jovem é promotor de resiliência e autoestima, e ainda, da construção de uma vinculação positiva com pares e figuras de autoridade, fazendo da escola um fator de proteção à drogadição, do contrário o uso de substâncias pode se configurar como uma via de realização pessoal e única fonte de prazer. Tais questões afetam, de modo concomitante, a saúde e a educação da população jovem, demandando articulações entre as políticas públicas condizentes, como também relações próximas dos serviços públicos inseridos na comunidade.
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ISSN 2764-2135