PANDEMIA E SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL: O QUE MUDOU ENTRE 2017 E 2021?
Resumo
Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) acolhem pacientes com transtornos mentais e atuam como um importante dispositivo da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Esses, são serviços de saúde comunitários oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão inseridos na rede de Atenção Especializada em Saúde. Com a pandemia de Covid-19, as pessoas precisaram lidar com o isolamento social e as consequências deletérias não se resumem apenas à saúde mental, mas também no que concerne ao aumento das desigualdades no Brasil, intensificando o cenário de crise socioeconômica. Frente ao exposto, objetiva-se refletir sobre as mudanças de perspectivas referentes às atividades dos serviços de saúde mental advindas do contexto pandêmico, em um município do interior do Rio Grande do Sul. Este estudo é um recorte da pesquisa “Produção de Sentidos Acerca da Drogadição: panorama do uso de drogas sob o enfoque do adolescente e da família na intersecção do contexto escolar, PSE e CAPSia…”. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas em dois anos diferentes (2017 e 2021), com profissionais que atuam nos CAPS. Nesse município, os CAPS são divididos em três modalidades: infância e juventude, adulto, e álcool e outras drogas. Dois desses foram entrevistados em 2017 e 2021 e o outro, incluído no último ano. Os dados produzidos foram analisados a fim de identificar e refletir sobre as principais mudanças nos serviços. A análise de dados se deu na perspectiva proposta por Mary Jane Spink, acerca da produção de sentidos. Percebeu-se mudanças expressivas, como o aumento dos atendimentos por meios digitais (teleatendimento) e as visitas domiciliares aos usuários. Ampliou-se o processo de comunicação e a perspectiva nos modos de exercer os trabalhos em rede. Por conta do distanciamento necessário devido a pandemia, ocorreu uma redução nas atividades realizadas em grupos e nas oficinas dos serviços. Assim, por um lado, identificou-se nas falas dos profissionais um sentimento de fragilização no vínculo entre os usuários e os CAPS, uma vez que esse enlace era fortalecido ao longo do desenvolvimento das atividades, de forma presencial, que mantinha o usuário mais tempo no serviço. Paralelamente, houve um aumento dos atendimentos individuais e um estreitamento de laços dos pacientes com suas famílias, dado que o isolamento possibilitou não só a aproximação dessas com os usuários em casa, como também inteirar-se do tratamento proposto e de suas narrativas individuais. Assim, nota-se a importância da família no processo de suporte ao tratamento de saúde mental e a urgência de implementar projetos relacionados à promoção do vínculo familiar. Ainda, não houve um aumento da demanda, mas sim uma mudança no perfil dos usuários (jovens) e no tipo de queixa (ansiedade). Os novos pacientes chegam aos serviços através de encaminhamentos realizados pela atenção básica - reafirmando a importância no fluxo de referência e contrarreferência - e pela busca espontânea. O fortalecimento dos vínculos entre os usuários e seu núcleo familiar, oportuniza a ampliação do trabalho em saúde com a comunidade. O teleatendimento e o aumento das visitas domiciliares foram estratégias determinantes para o cuidado em saúde mental na pandemia. Nessa perspectiva, pode-se ressaltar a urgência de elaboração de novos modos de comunicação entre paciente e serviço, potencializando a adesão e continuidade do plano terapêutico.
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ISSN 2764-2135