ÚLCERA DE ABOMASO IATROGÊNICA EM BOVINO: RELATO DE CASO
Resumo
Introdução: Com a expansão da bovinocultura de corte, o avanço genético tem originado animais de alto valor genético, criados de forma intensiva para atingir seu máximo desempenho produtivo. A criação cada vez mais intensiva destes bovinos tem determinado a ocorrência de diversos distúrbios digestivos, tais como as úlceras de abomaso. Esta abomasopatia é considerada multifatorial. Fatores como estresse, gestação, dieta rica em concentrado, cetose, mastite, deslocamento abomasal, esteatose hepática, neoplasias, além do uso exacerbado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) têm sido associados à ocorrência dessa enfermidade. Objetivo: Descrever um caso de úlcera de abomaso em um bovino atendido pela equipe do Setor de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Universidade de Santa Cruz do Sul. Metodologia: Relato de caso individual de um bovino macho, de 2 anos e 8 meses de idade, 750 quilos, fértil, da raça Braford, atendido em propriedade rural de Santa Cruz do Sul. Foram realizadas quatro visitas à propriedade para anamnese, exame físico, tratamento e acompanhamento terapêutico. Resultados: O atendimento inicial foi solicitado em decorrência de uma grave claudicação. Ao exame físico foi possível detectar a presença de possível subluxação na articulação escápulo-umeral esquerda. Segundo relato do tratador, a lesão ocorreu quatro dias antes do atendimento, em decorrência de uma interação com uma fêmea fértil. O tratamento indicado consistiu em 40 mg de acetato de dexametasona em dose única intramuscular (IM) e após 2 dias desta aplicação, a utilização de 2 mg/Kg de flunixin meglumine por 3 dias IM e repouso com restrição de movimentos. No segundo atendimento, solicitado 10 dias depois, o animal apresentava leve desidratação, melena, além de sangue vivo, decúbito esternal e comportamento sugestivo de dor. O tratador relatou a utilização de anti-inflamatórios além do prescrito, com acetato de dexametasona por mais cinco dias e aplicações alternadas dia sim e dia não de flunixin meglumine, até o dia anterior ao atendimento. Também foi relatada a utilização de anti-inflamatório antes da primeira consulta, que não havia sido comentado anteriormente. Com base neste histórico e nos sinais clínicos, sugeriu-se que o animal apresentava úlcera de abomaso em decorrência de uso em excesso de anti-inflamatório. Iniciou-se o tratamento com antibiótico à base de sulfadoxina e trimetoprima, dose única, e a indicação de 7,5 g de omeprazol por 14 dias, além de protetor de mucosa a base de gel de linhaça, duas vezes ao dia por 7 dias. Recomendou-se a suspensão do fornecimento de concentrados e silagem. Foi realizada fluidoterapia oral em uma terceira visita, tendo em vista a desidratação pesistente. Com a melhora significativa do paciente do quadro de úlcera abomasal, recomendou-se a manutenção do repouso, para recuperação da lesão inicial e a reintrodução lenta de concentrado após o fim do tratamento. Conclusão: À vista disso, pode-se concluir que, o uso prolongado de anti-inflamatório além do recomendado clinicamente, desencadeou um processo ulcerativo abomasal grave, reforçando a importância da administração de dose e período adequado em bovinos. Ressalta-se também a necessidade de introduzir o tratamento precoce para esta condição, tendo em vista sua grande letalidade em bovinos.
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ISSN 2764-2135