ASSOCIAÇÃO ENTRE DERMATOPATIAS DE DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E ESTIGMA SOCIAL: REVISÃO INTEGRATIVA

João Arthur Marques Lima, Samuel Mattana Ferst, Christopher Heling, Gabriel Schmidt, Henrique Ziembowicz, Camilo Darsie de Souza

Resumo


No decurso da história humana, as dermatopatias representam papéis singulares no palco das entidades nosológicas que acometem o sistema tegumentar. Elas se constituem de modo distinto de outras condições, pois seus portadores apresentam lesões cutâneas que são percebidas e, muitas vezes, julgadas pela sociedade. Assim, esta condição impacta (in)diretamente na qualidade de vida de milhões de sujeitos, o que prejudica o pleno bem-estar biopsicossocial. Em pacientes imunodeprimidos, as doenças oportunistas perpetuam o estigma social preexistente com a condição de base, como no caso do estigma social associado entre sarcoma de Kaposi e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Nesse sentido, o medo de algumas doenças, como alopecia total, aproxima-se da magnitude do medo de um infarto agudo do miocárdio. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender e discutir a associação entre dermatopatias de doenças infectocontagiosas e a emergência e desenvolvimento de estigmas sociais. A metodologia do presente estudo se baseia em uma revisão integrativa da literatura, realizada em julho de 2022, na base de dados PubMed, utilizando os Medical Subject Headings ‘’skin disease’’, ‘’social stigma’’ e ‘’communicable disease’’, e seus equivalentes em língua  portuguesa’. A recomendação do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) foi utilizada neste artigo e, na sequência a seguinte questão norteadora foi elaborada: como se manifesta o estigma social associado a dermatopatias de doenças infectocontagiosas? Os critérios de inclusão foram artigos originais publicados nos últimos cinco anos, de livre acesso e revisados por pares; os de exclusão, por sua vez, foram aqueles que não atenderam ao objetivo da pergunta norteadora. No que diz respeito aos resultados principais, a estigmatização de populações acometidas por moléstias cutâneas de infecções pode, muitas vezes, inseri-los em conjunturas emocionais estressantes e menos favoráveis do ponto de vista social. A repercussão desse processo está intimamente relacionada a prejuízos na qualidade de vida. Em razão disso, há uma distorção da percepção dos indivíduos de sua posição na vida no contexto da cultura e de sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É possível inferir, também, que estigmas são difundidos, inclusive, por profissionais que prestam o cuidado médico. Muitas vezes, o atendimento aos acometidos por doenças infectocontagiosas é negado por preceitos excludentes difundidos. As implicações desse contexto, em países como a Inglaterra, foram demonstradas à medida que não haviam diretrizes e protocolos claros e específicos para o enfrentamento dos surtos de sarna, por exemplo. Dessa forma, foi elucidado que medidas sanitárias relacionadas à sistematização das informações sobre tratamento e transmissão de dermatopatias poderiam atenuar impactos econômicos e sociais nas comunidades locais. O estudo considera, por fim, um hiato em relação à carência de publicações brasileiras sobre o assunto, porque a busca dos artigos apontou apenas para investigações com origem no exterior. Isso reitera, portanto, a importância de investigar as diferentes consequências de condenações morais ao bem-estar de populações no país.

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ISSN 2764-2135