EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO MÉDICA A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA COM A ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DE SANTA CRUZ DO SUL

Resumo

O presente resumo se propõe a apresentar algumas relações entre Educação Popular em Saúde e a pesquisa como ferramentas para uma formação médica que supera os saberes da clínica tradicional. Para tanto, partiu-se da sistematização de experiência pedagógica, em particular, de alternância entre o tempo-escola e tempo-trabalho na agricultura da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul. Além disso, considerou-se a experiência como estudante de medicina e bolsista em um Programa de Pós-Graduação em Educação. Esse tipo de metodologia tem como objeto do conhecimento a relação teoria-prática, ou seja, um exercício coletivo de reflexão sobre as dinâmicas e os processos educativos de que participam. Assim, os sujeitos da experiência possuem um papel central para a construção do conhecimento, sendo essa uma prática social científica e popular. A sistematização de 19 Instrumentos Pedagógicos (IPs) ocorreu em 2019, momento em cada um deles foi identificado e caracterizado pela coordenadora pedagógica (1), estudantes e egressas da EFASC (3) e integrantes do Grupo de Pesquisa (5). Os IPs são ferramentas que explicitam a complexidade do ensino-aprendizagem na alternância entre seus diferentes tempos-espaços, incluindo a dialogicidade entre família, escola e comunidade. A promoção da saúde está presente na vida das pessoas, através de saberes prévios advindos das tradições culturais familiares e comunitárias, muitas delas, aprendidas no cotidiano da vida. Em particular, o Estágio de Vigências, a Área Experimental e a colocação em Comum são IPs que melhor explicitaram tais saberes. A atitude pedagógica é importante para a formação, seja ela a da escola com a Pedagogia da Alternância, seja na criação dos espaços de formação não formais, como a troca dos saberes técnicos da academia com os saberes populares e ancestrais das comunidades, como revelaram os IPs: Visitas Técnicas e Serões. Na formação médica, entende-se a importância da integração de saberes populares no currículo. No entanto, essa integração pode mostrar-se pouco expressiva nas práticas, seja pela formação dos profissionais preceptores, seja pelo não entendimento por parte dos/das médicos/as em formação. Além disso, esses saberes se mostram essenciais para a formação crítica, pois está baseada na realidade, uma vez que leva em conta as mudanças no perfil epidemiológico do processo saúde-adoecimento – como pode-se observar nos elementos de promoção da saúde que os IPs podem potencializar. Os princípios da Política Nacional de Educação Popular em Saúde do Sistema Único de Saúde são essenciais para a formação e estão previstas nos documentos legais: o diálogo, a amorosidade, a autonomia, a problematização e crítica, a construção compartilhada de conhecimento e o compromisso com um projeto democrático e popular. E, consequentemente, a formação de um/a profissional comprometido/a com a mudança social, na qual as necessidades de saúde e os interesses populares sejam o direcionador de condutas. A Pedagogia da Alternância, através de seus IPs, tem presente cada um dos princípios considerados essenciais na PNEPS-SUS. As relações entre a pesquisa e a educação popular para a formação, construção e compartilhamento do conhecimento na formação médica, pode contribuir para a efetivação do princípio da integralidade, proposto pelo SUS.